Moses e Aaron

escrito por Jhon Voese

Parte 1 – Aaron

Aaron se envolveu com a rede de tráfico em Kibera quando ainda era uma criança. Desde pequeno já levava jeito com os aparelhos eletrônicos. Sabia entrar e sair da Uberrede como um Hacker de primeira. Essas habilidades faziam dele um mal necessário aos traficantes, ou nesse caso, um bem necessário, pois Aaron não era uma pessoa má. O que ele fazia podia até ser contra as regras. Mas, sabia que quem faz as regras, não são as pessoas que vivem elas.

– Cara, você vai conseguir marcar os locais de entrega do produto, ou vai ficar aí vendo pornô 3D? – Perguntou um dos traficantes.

– Você não entende! Eu preciso trafegar por trás dos sites pornôs para que os tiras não sigam nosso rastro, você prefere rapidez ou eficiência? – Respondeu Aaron, sem tirar os olhos da interface. Um holograma apresentava códigos complexos em meio a partes de mulheres seminuas com partes do corpo desproporcionais entre si.

Aaron era amigo desse traficante, chamado Kimani. Os outros traficantes já eram mais velhos e justamente por isso nenhum se interessava por “esse negócio da Uberrede”, diziam: “quero mais é ficar na minha”, “não quero perder meu tempo com isso”. Desse modo, os trabalhos online, ficavam com Aaron.

Kimani só via metade do corpo de Aaron e seus dreadlocks, o resto parecia ser engolido pelas luzes da holografia.

Após o incidente com a polícia, em 2512, que culminou na caçada ao líder do tráfico conhecido como Valker Kipsang, as coisas ficaram bastante bagunçadas em Kibera.

No início, alguns policiais corruptos tentaram assumir o tráfico, mas a falta de conhecimento da vida na favela fez com que o “Império” quebrasse em várias gangues pequenas. Aaron nem era nascido quando tudo aconteceu, mas aprendeu sobre a história, pois era o que os professores chamam de “aluno voraz”.

Sua escolha pelo crime não foi justa, sua família era pobre e sua mãe sofria com a depressão. Por isso, Aaron precisava dos remédios que só os traficantes tinham.

Ele tinha uma irmã mais velha e lembrava pouco de seu pai. Sabia que era um homem bom e que morreu protegendo a família. A lembrança desse dia era forte nele.

Hoje Aaron marca os encontros para a troca de “produtos”, como os traficantes chamam. Esses “produtos” vão desde armas, drogas, pessoas e informações. Esse último é o que dá mais dinheiro. O hacker não se envolve com os conteúdos, o que para Aaron é bom, pois evite que ele se ligue emocionalmente com o trabalho.

O programa que Aaron usava para marcar os encontros tinha que cumprir uma rotina complexa. Além de alternar com endereços de IPs no mundo todo, pois a Investigação Digital hoje em dia estava muito avançada. Ele usava os sites pornôs e de relacionamentos, porque devido à quantidade de propagandas, vírus e distrações que havia nesses sites dificultava o rastreio.

Ao concluir sua tarefa, que era mais difícil do que seus chefes pensavam, ele desligou todo o aparato tecnológico, cabos, placas e muitas outras tralhas e sucatas que só mesmo ele reconhecia como computador Franquenstain de alto desempenho.

Seguiu montado em seu Magleve pessoal. Aproveitando-se dos velhos trilhos, da tentativa de transporte público, que cortava mais da metade de Kibera.

A política em Kibera dividia-se entre as gangues na parte centro, sul e leste. E as ONGs que já haviam se estabelecido nas zonas norte e oeste. O processo de erradicação da pobreza ocorrido no séc. XXIII tinha melhorado a vida das pessoas, mas de tempos em tempos a corrupção estraga o que as boas políticas tentam consertar. Mesmo assim as coisas andavam razoavelmente bem para o povo de Kibera. Era uma comunidade pobre isso ninguém negava, mas como as inovações eram rápidas e o mercado precisava sempre se reabastecer. Em períodos cada vez mais curtos, o que era lixo por estar apenas seis meses desatualizado ajudava muito a população da favela. É evidente que havia muito lixo que era lixo mesmo, nas ruas da favela, mas um bom garimpeiro poderia encontrar coisas muito boas.

Quando chegou a casa, através dos trilhos periféricos improvisados pela própria população, Aaron saltou do veículo. Encaixou seu staffkey num buraco que havia no chão ao lado da porta, que se acendeu em algumas ranhuras. Girou-o levemente e o retirou. As luzes espalharam-se pelo entorno da porta que, ao final de todo o espetáculo, abriu-se. Antes de entrar avistou uma tira de papel com escritas em braile. Como as linguagens de acessibilidade foram superadas pelos implantes neurais, poucas pessoas as conheciam, tanto o braile como as de sinais. Apenas comunidades muito pobres as mantinham vivas, pois não podiam pagar pelos implantes e ainda tinham filhos que precisavam se comunicar. A mensagem dizia: “Moses está na cidade, mandei-o procurar por você. Por favor, tome conta do nosso irmão!”.

– Espero que você saiba o que está fazendo Miriã.

Parte 2 – Normalidade abalada

No terraço do Grande Hotel o ar artificial conseguia representar o clima de uma floresta. O som de alguns pássaros fez a respiração de Moses suavizar. Os jardins suspensos pareciam ser plantados no céu. No entanto, o clima ficou pesado quando uma nuvem cobriu a lua.

– Mas, Yussuf você garante que o garoto ficará do nosso lado? – Disse uma das vozes. Moses reconheceu o nome de seu pai então continuou.

– Sim, Moses é um bom garoto, irá entender. Garanto que ficará ao lado da família.

– Parece que o assunto chegou? – Brincou Moses. Chegando à clareira viu o pai e seu convidado – Dr. Mugabi, não tinha reconhecido sua voz, é um prazer revê-lo, tenho ideias para discutir com o senhor.

– Sinto, mas acho que deixaremos para amanhã. Já estou me despedindo de seu pai. Até Yussuf, aproveite o tempo com seu filho, pois amanhã levá-lo-ei comigo.

Moses achou estranha a saída do homem, mas a educação falou mais alto e ele se calou.

Pai e filho viram o homem se consumir em sombras na floresta do hotel, então Moses falou:

– Do que falavam pai?

Yussuf se embaraçou. Puxou forte o charuto e respondeu:

– Acalme-se garoto! Aproveite a festa. Quando a hora chegar, nós conversaremos.

– Mas…

– Moses, você é muito jovem para questionar as decisões de seu pai. Aproveite a festa antes que o clima fique mais pesado.

O pai abraçou-o forte e o deixou com seus pensamentos e dúvidas.

Após um tempo desceu direto para o quarto, já não tinha mais cabeça para festa. O que houve com o pai? Por que tanto mistério?

Deitou-se e só então a lembrança do que a moça falara ficou clara “embaixo do travesseiro procure a verdade sobre os meninos inocentes”.

Ficou intrigado. Fez uma pesquisa rápida pelos termos: meninos, inocentes e verdade. Mas, nada achou de consistente.

Apenas um blog antigo e mal feito que não passava credibilidade. Nas pesquisas relacionadas anúncios do tipo “Saiba mais sobre teorias da conspiração? Clique”.

Moses desconfiava dessas teorias, mas leu um artigo sobre desaparecimentos de crianças há mais de dez anos. O texto dizia que megaempresas estavam envolvidas, numa conspiração que usava crianças como cobaias.

Quando chegou nesse ponto fechou o projetor holográfico e soltou uma bufada de desprezo. “Que loucura, crianças como cobaias? Deve ser brincadeira, desde a invenção dos Homúnculos não precisamos mais de cobaias humanas. Quem roubaria crianças dos seus pais? Quem seria mal a esse ponto?”.

Descrente, Moses foi dormir. Devido ao cansaço logo adormeceu, mas o mundo dos sonhos estava conturbado.

“Via uma mulher gritando/Ela o abraçava e chorava/Havia um homem de joelhos implorando algo, mas os mascarados armados não escutavam/Atrás viu uma moça, mais velha do que ele segurando um menino/Reparou que ele próprio era só um bebê/Então os mascarados o arrancaram da mulher e a machucaram/Ainda pode vê-la sangrando/O homem que implorava agora avançou nos mascarados, mas um deles atirou/Um feixe de luz o cegou, quando voltou a enxergar parecia que o peito do homem explodira de dentro para fora, o sangue cobria a mulher, as crianças taparam os olhos e ele sentiu alguns respingos no seu rosto”.

Acordou e suava frio. Na projetação da parede eram 3am. Decidiu que levantaria e no movimento para sair da cama, sua mão esbarrou em alguma coisa embaixo do travesseiro.

Uma tira de papel com marcas em alto-relevo. “Isso é braile!”. Apesar de não saber ler braile, com seu computador poderia traduzir. “Estão te enganando, fuja o mais rápido que puder. Procure por Aaron em Kibera”.

– A moça deve ter deixado isso aqui “embaixo do travesseiro” Ha! Pensei que era uma metáfora!

Voltou ao artigo e reparou que os casos envolviam a empresa do Dr. Mugabi. Não podia ser coincidência. O Dr. tinha opositores é claro, mas logo quando ele estava em sua festa e quando em poucas horas seria seu chefe era estranho.

Parte 3 – Encontro

Em casa Aaron mexia em seu computador que se chamava Franquenstain. Uma referência torcida ao clássico de Mary Shelley, Frankenstein. Por último, plugou seu staffkey. Luzes e sistemas de resfriamento começaram a funcionar.

Através de um sistema de Inteligência Artificial rudimentar Aaron e seu Franquenstain podiam trabalhar no mundo virtual. Conforme a I. A. se aprimorou, o próprio sistema ajudou Aaron a encontrar peças e a melhorar seu hardware. Os dois eram um time.

Aaron não sabia como Moses iria encontrá-lo, então se antecipou. Descobriu que na manhã seguinte ele seguiria para o Laboratório do Dr. Mugabi, então devia agir rápido ou seria tarde demais. Qualquer veículo que Moses pudesse estar seria hackeado. Marcou uma rota para uma região semi-desolada de Kibera, onde não haveria patrulhamento e nem população que causasse alarde.

No Hotel de manhã, Moses convenceu a família que iria antes para o laboratório, pois queria impressionar o Dr. Mugabi. Mas, seu plano era escapar antes e investigar o laboratório. Pegou um Autocar e marcou o curso. O sistema de Aaron sabia quem estava nele, pois tinha sido ativado pela retina. Não foi difícil mudar seu curso, o código era complexo, mas a I. A. de Frankenstain era mais avançada que a do Autocar. Moses nem reparou que estava indo para Kibera. Moses estava na parte de trás do veículo apreciando a vista, espantou-se quando seguiu pela Southern Bypass através da Ngong Road Forest, quando deveria seguir em direção à rodovia que levava ao aquífero de Turkana. Mesmo assim a essa altura já não podia fazer muita coisa, além de esperar que o sistema corrigisse a rota, depois da reserva. Conforme seguia por Kibera, ele se impressionava com os aglomerados de metal que formavam os barracos. A densidade populacional só aumentava. Mas, ainda não era nada, pois estava contornando a favela pela parte sul então não tinha noção do imenso complexo habitacional.

À frente, as construções de metal reciclado, deram lugar a rudimentares casas de madeira e barro. A quantidade de pessoas também diminuiu. Era o lugar mais ermo que já estivera. Notou que estava muito fora da rota. Tentou assumir o controle, mas não teve permissão. Mais alguns km e o veículo simplesmente parou. A porta se abriu e o sol vindo de fora o cegou. Desceu e conforme sua visão voltava viu a figura de um homem, não muito velho. O cabelo com muitos dreadlocks criava uma silhueta imponente e sorriso de Aaron era evidente.

– É você mesmo! Achei que nossa irmã tinha errado.

– Quem é você, e como vim parar aqui?

– Eu sou Aaron. Seu irmão. Você foi tirado da nossa família, mas voltou. Só isso importa. Venha, vou responder todas as suas dúvidas.

– Como… Então você me conhece? – perguntou Moses confuso.

– Acompanhamos sua vida de longe. Eu também era só uma criança quando levaram você, talvez não se lembre, mas eu não posso esquecer. Por você, pelo papai.

– Será que o sonho… Seriam lembranças? Mas, meus pais são tão bons, por que mentiriam?

– Eles não são seus pais, Moses. É tudo um plano. E tem a ver com aquele Dr. Mugabi. Precisamos de um lugar seguro para eu lhe mostrar as provas que reuni nesses anos.

– Você disse acompanhamos?

– Sim, eu e nossa irmã Miriã.

– A moça do hotel?

– Provavelmente sim. Miriã é especialista em entrar nos lugares sem ser notada. O que eu faço na Uberrede ela faz no mundo real.

– Mas, o quê, você é tipo um hacker e ela uma espiã, por acaso nossa família tem origens militares, ou somos tipo heróis?

Aaron meio que cortou suas expectativas. Rindo um pouco se imaginando como herói, falou:

– Na verdade não. Somos só pobres coitados que se adaptaram a esse mundo, hostil e violento. Cada um ao seu modo nos viramos sozinhos desde que nossa mãe…

– Quer dizer que nossa mãe, também…

– Não, ela não morreu. É que ela não fala, não ri. Parece um estado de choque contínuo. Miriã cuida da gente desde que me lembro.

– O.K. Sinto a verdade em você, ainda assim quero ver as provas. Irei te acompanhar, mas já aviso que sou mestre em MMA, se tentar alguma coisa…

Aaron riu como só um irmão mais velhos sabe rir. Disse para Moses a subir na sua Magnumgravitacional e que deixasse o Autocar ali, pois em minutos as crianças de Kibera o depenariam e ninguém os rastrearia. Moses teve que dar um salto de fé, mas como falou, havia verdade no que Aaron dizia, e ele precisava saber qual era.

Moses descobriu que havia um plano para usar seu DNA no teste para possíveis armas biológicas então quando chegou ao laboratório, com a ajuda de seu irmão armaram bombas de PEM, Pulso Eletromagnético para tentar atrasar os planos de Mugabi e sua família adotiva.

Parte Final – Revelação

Seguiram pro norte uns 150km que na prática foram 15min, na MG de Aaron. Ela era um ótima para grandes distâncias,pois usava o campo Eletromagnético para distorcer o espaço à sua frente o que gerava um campo gravitacional, que fazia com que ela “caísse” pra frente a grandes velocidades.

Por distorcer o espaço, também evitava a ventania que os motociclistas supersônicos odiavam, pois o ar envolta deles também “caía” na mesma velocidade. Era como se estivessem parados.

Chegando ao Hell’sGate, Aaron apontou seu bastão para frente e Moses viu ao lado de uma parede rochosa um trailer saíndo do módulo camuflado.

Entraram no trailer e Moses não sabia o que esperar, tudo era simples. Tinha bastante espaço, mas não havia luxo nem conforto.

Aaron o levou até o quarto da mãe que tinha uma grande janela para o parque. Mesmo sem lembrar-se da mãe, ele ficou emocionado ao vê-la sentada numa cadeira de balanço. Com o lenço na cabeça e o olhar no horizonte.

Aproximaram-se dela devagar.

Aaron deu a volta, segurou na mão dela e falou:

– Mama. Sabe quem é ele? É o seu mtoto. Miriã o achou e eu o trouxe de volta.

Moses se aproximou, pegou na outra mão da mãe instintivamente e disse:

– Mâma?

A mulher pareceu sorrir com olhos, mas os mantendo fixos. Uma pequena lágrima escorreu de um deles e ela num esforço visível finalmente disse:

Mtoto!Mtoto! – e novamente se calou, isso já foi o suficiente para que ambos os filhos se abraçassem e chorassem.

Nesse momento Moses se convenceu de toda a história que lhe fora escondida. Tinha sido tirado dos braços de sua mãe quando era um bebe e seu pai tinha sido morto na sua frente.

Agora já recomposto, precisava saber o porquê disso tudo. Precisava colocar sua família adotiva na parede.

O irmão então mostrou alguns documentos que comprovavam o parentesco entre eles e com um exame rápido da retina Moses soube que era verdade.

Ninguém sabia dizer o que havia de ligação entre Moses e os outros casos, mas sabiam que tinha a ver com a pesquisa de genética do Dr. Mugabi.

Quando o nome do médico reapareceu Moses lembrou-se que deveria estar em seu laboratório.

Rapidamente teve uma ideia, que parecia perigosa, mas que ele teria que pôr em prática. Enviou uma mensagem ao pai para encontrá-lo no laboratório.

Convenceu Aaron a leva-lo até lá, mas que ao chegarem entraria sozinho. Aaron aceitou, com a condição que Moses levasse consigo uma granada PEM, para qualquer emergência e ele o esperaria no raio de alcance para resgatá-lo se precisasse.

Parecia um bom plano.

Vida nas sombras

Chegando próximo a cerca de infravermelho Aaron deixou Moses seguir a pé. Este se identificou e logo foi recebido.

Andou por alguns metros no pátio e entrou num enorme barracão de metal.

Lá dentro foi surpreendido pelo Dr. Mugabi e pelo pai adotivo que conversavam sobre um mundo novo. Uma nova espécie e outras conversas que Moses achou xenofóbicas.

Ao enfrentar os dois, Moses ficou sabendo que o Dr. Mugabi queria usá-lo assim como outros jovens que possuíam um código genético “puro”, segundo eles. E baseado nisso poderiam fazer testes para uma nova arma biológica.

Moses nem deu tempo para seu pai explicasse suas razões, pois tudo aquilo já era crime demais para ele. Usar pessoas para criar armas? Nem mesmo a ingenuidade de Moses era capaz de aguentar algo assim.

Fugiu deles e ativou o a granada PEM, que trouxera.

O pequeno blackout foi consertado em poucos minutos, mas foi tempo suficiente para que os irmãos fugissem sem deixar rastros.

Seus dados estavam na lista da segurança pessoal das corporações Mugabi e Arafat. Eles teriam que desaparecer por um tempo.

Também é fato que sem Moses a pesquisa atrasou em alguns anos, pois precisariam de um jovem da idade dele no com vigor que só a primeira infância tem. Para que pudessem testar a resistência do Humano original a todos as novas armas biológicas que poderiam ser produzidas. Os irmãos adotivos do Moses seriam os primeiros testados. Yussuf já estava tão obcecado com o seu plano de novo mundo que não se importaria em entregar todos, para os testes que eram dolorosos e cruéis.

Depois de tudo voltar ao normal o Dr. Mugabi falou:

– Não importa Yussuf, teremos que continuar assim mesmo. Acredito que em alguns anos já terei terminado o mapeamento e a partir dele será mais fácil identificar nossas raízes genéticas. Havia potencial naquele seu filho. Que pena, que ele fugiu.

* * *

Aaron e o irmão se dirigiram para o sudoeste do Quênia onde encontraram um povo que Moses só tinha ouvido falar nos seus estudos secretos de sociologia histórica, os Masai.

Todos vestidos de vermelho e com adereços nos cabelos e orelhas. Do meio deles saiu uma mulher com um capuz que escondia o rosto. Quando ela chegou perto Moses a reconheceu. Era a moça bonita do hotel.

– É bom vê-lo de novo irmão. – disse Miriã.

– É muito bom conhecê-la irmã. – respondeu Moses.

Os três se abraçaram e o povo Masai festejou o reencontro da família. Aaron deixou Moses com eles e foi em busca de sua mãe.

Desde aquele dia foram acolhidos pela comunidade seminômade dos Masai. O dia já estava terminando quando Moses se pegou olhando para o céu, coisa que já tinha feito muitas vezes. O céu poderia ser o mesmo, mas de hoje em diante ele era uma pessoa completamente diferente.

Na sua antiga família pouca coisa mudou. Yussuf retornou para o Egito com a mulher e os outros filhos. Comunicou a eles o que havia ocorrido. Eles não puderam opinar ou discordar, pois o patriarcado na casa Arafat estava cada vez mais rigoroso. Apenas se conformaram com sua nova sina.

Dois anos após o ocorrido o Dr. Mugabi anunciou oficialmente que o mapeamento genético estava completo. E infelizmente a história dos meninos inocentes permaneceu no rol das teorias da conspiração. Pelo menos um deles, Moses teve sua vida poupada e agora tinha um novo caminho pela frente, uma vida nas sombras vermelhas.


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