Nossa Terra
B. Craus Nantai
Autores
Laelson Matos
Jackeline Cajueiro
P. H. Ludwig
Mayra Pamplona
Domenica Carneiro
Wellington Fioruci
Angélica Neneve
Giovanna Tenório
Ana Carolina Nogueira
Hedjan C. S.
Celso Ricardo de Almeida
Gregory Mourinho
Daniela Genaro
Jullie Veiga
Lucas Luiz da Silva
Sigridi Borges
Morphine Epiphany
Revista
nº 19
Equipe
Editora-chefe
Mayara Barros
Conselho Editorial
Claudia Bianco
Igor Batista
Marina Brandão
Mayara Barros
Vitória Pratini
Projeto Gráfico
Claudia Bianco
Marcelle Andrade
Mayara Barros
Victor Vicente
Vitória Pratini
Jornalistas
Claudia Bianco
Marina Brandão
Mayara Barros
Vitória Pratini
Colunistas
B. Craus Nantai
Capa
Mayara Barros
Revisão
Claudia Bianco
Contato
contato@revistavessa.com
www.revistavessa.com
Fone: (21) 992335745
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Twitter: @RevistaAvessa
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mai/jun 2018
A revista Avessa é uma iniciativa independente de graduandos do curso de Jornalismo da UERJ. Os textos divulgados são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a opinião da revista. Não é permitida a reprodução dos artigos e textos aqui publicados.
Nº 19
Mai/Jun 2018
Editorial
Mudanças estão chegando. Essa vai ser a última edição de 2018. Tomamos essa decisão para preparar o terreno e ter tempo de fechar os detalhes das novidades que queremos implementar. Essa não é uma decisão que tomamos levianamente, mas acreditamos que será melhor para o futuro da revista.
Outro motivo para resolvermos dar um tempo nas edições é o fato de que não estamos dando conta do trabalho, como vocês podem muito bem ter percebido. As edições tem atrasado com muita frequência e a culpa é minha. Porém, ao mesmo tempo que têm ficado difícil manter a pontualidade das edições, eu não quero parar com o trabalho que fazemos aqui.
Então pensei em alternativas. E para que elas se tornem realidade, preciso de tempo para colocá-las em prática. Tempo que só terei se interrompermos a produção das edições por um tempo.
Pensem nesse tempo como um interlúdio. Os trabalhos não vão parar, mesmo que não publiquemos edições, ainda vamos movimentar a página no facebook compartilhando oportunidades e links interessantes para vocês. E quando estivermos prontos, voltaremos ainda mais fortes!
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Mayara Barros
Editora-chefe
prosa
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prosa
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prosa
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prosa
prosa
Vinte Anos de Sonho
Jackeline Cajueiro
Manifesto da ABM
P. H. Ludwig
Laelson Matos
Mayra Pamplona
Domenica Carneiro
Cianalas
Memorabilia
Momentos de Nostalgia
O Céu de Ontem
O Circo
O que a Nostalgia Traz de Volta
O Suave Toque da Infância
Quando Ontem se Torna Mais Bonito
Antologia Momentum
Angélica Neneve
Wellington Fioruci
Giovanna Tenório
Ana Carolina Nogueira
Hedjan C. S.
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prosa
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prosa
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prosa
35
prosa
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artigo
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prosa
poesia
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poesia
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coluna
poesia
Agradeço a Você
Celso Ricardo de Almeida
Cigarros e Flores
Gregory Mourinho
Daniela Genaro
Nossa Terra
B. Craus Nantai
Depois da Noite
Nostálgica
Olhos na Nuca
Retrato
Sobre um Submerso Peito
Lucas Luiz da Silva
Jullie Veiga
Sigridi Borges
Morphine Epiphany
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poesia
55
poesia
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poesia
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poesia
Cianalas
Seu hábito de vagar pelas ruas, becos e vielas da cidade, um dia, iria lhe meter em lugares estranhos.
Eram quase cinco da tarde quando Thomás embrenhou-se numa viela a qual jamais vira antes. Sendo realista, muito do percurso, daquele dia, fora por lugares aos quais, na maioria do tempo, ele não tinha ideia de por onde estar caminhando. Thomás começara a vagar pela cidade devido às suas inúmeras crises de insônia: quando jovem, descobriu que cansar o corpo lhe esgotava de tal forma que, não conseguia ficar acordado, mesmo se quisesse – isso o ajudava a dormir. Porém, conforme os anos passavam, e as crises pioravam, tornava-se cada vez mais difícil.
A loja, de fachada acinzentada, provavelmente, um dia, já fora nova. As janelas estavam cheias de poeira, e se não fosse a grande placa pendurada na porta como um anuncio de funcionamento, ele nunca acharia que poderia existir alguma forma de vida por ali. Acima do letreiro, que lhe convidava a entrar no prédio de arquitetura decadente, havia uma placa em vermelho brilhante, anunciando: “Cianalas”. Devia ser o nome da loja
Ao entrar na loja, seu corpo foi atravessado por uma sensação de pequenez em relação ao mundo e tudo que já vivera. Havia inúmeras prateleiras, grandes e pequenas; aquelas, que ficavam escoradas nas paredes, se estendiam para algo mais de cinco metros acima da sua cabeça, ele achava – todas completamente lotadas. Além de um homem bigodudo no balcão, a única outra pessoa na loja era uma moça, que brincava, bem ao fundo, com uma máquina de escrever.
Thomás aproximou-se do balcão, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, o homem do bigode grande lançou seus longos braços e abraçou-lhe, mesmo com o móvel entre eles. O homem, enfim o soltou, recuou e bradou para que todos pudessem ouvi-lo dizer “bem-vindo, meu amigo! Há quanto tempo, não?”.
Para Thomás, aquela era uma afirmação no mínimo maluca. Ele não se lembrava de jamais ter visto aquele homem em lugar algum, e embora pudesse ter sérios problemas para dormir, sua memória era incrível, ele achava. “Nós nos conhecemos?”, ele perguntou, ao passo que o homem respondeu sem hesitar “mas é claro que sim, meu bom amigo! Provavelmente você não se lembra bem do meu rosto – eu sempre acabo parecendo diferente, entende? Mas bem, isto é o que menos importa! O que lhe traz aqui hoje?”
– “para ser sincero, eu não sei ao certo”, respondeu. “Estava andando meio perdido e acabei parando aqui”. O homem caiu em gargalhadas, de forma que Thomás começou a questionar se havia dito alguma besteira gigantesca. Quando o senhor com bigode grande parou de rir, olhou com uma certa calma para Thomás e disse, como um adulto que expõe o obvio a uma criança: “mas sem estar perdido, de que outra forma poderia você se encontrar? Hãm?”
A verdade é que Thomás não sabia bem o que responder. Ao mesmo tempo que questionava a pergunta, achando que ela não fazia o menor sentido, algo em si, no fundo da sua cabeça levemente perturbada pela falta de sono, lhe dizia que talvez houvesse, ali, algo que ele não estava sendo capaz de apreender.
– “Mas então, o que é toda essa velharia?”, perguntou Thomás, para mudar de assunto. “Vocês vedem antiguidades?” Mais uma vez o homem riu, e Thomás sentiu que talvez o cara do outro lado do balcão estivesse debochando dele. As risadas, dessa vez, duraram menos, e o homem logo se recompôs. Ele, habilmente, com a pontas dos dedos, deu mais algumas voltas no grande bigode e pôs-se a falar:
– Estas coisas, velho amigo, não são antiguidades, muito menos velharias. Vê aquela moça ali? – disse o homem apontando para o fundo da loja com o polegar. “Você acha que ela brinca com aquela máquina porque ela ama escrever? Hoje em dia ninguém sabe mais, nem ao menos, o que é um pedaço de papel, e não conseguiria digitar numa máquina daquelas nem se suas vidas dependessem disso. O que vendemos aqui é uma sensação oceânica que lhe arrasta: ao mesmo tempo que lhe dá vontade de rir e enche seu peito de alegria, rasga sua alma e lhe asfixia de tristeza. Talvez uma das drogas mais viciantes já inventadas, as reminiscências pelas quais padecemos, o que vendemos, bom amigo, é nostalgia.
Thomás observava o homem, ainda com cara de incrédulo. Conhecia bem publicidade, e sabia que a maioria das pessoas comprava um produto por conta de uma ideia, mas não lhe parecia provável que alguém entraria em uma loja como aquela, num beco tão estanho, para sentir-se nostálgico com objetos que nem eram aqueles mesmo que faziam parte de suas vidas.
– “Vá, meu velho, prove por si próprio”. Disse o homem que continuava a enrolar a ponta do grande bigode. “Desbrave, a loja ou a si mesmo. Talvez você encontre o que tanto procura”. Embora não colocasse muita fé naquilo que lhe havia sido dito pelo homem, Thomás, sem saber ao certo porque, e como que atendendo ao chamado de algo além – ou talvez apenas de seus anseios pelo encontro de algo mais – embrenhou-se no mar “velharias nostálgicas” que se amontoavam por todas as direções.
Não passava das cinco, quando havia entrado em Cianalas; agora, o sol há muito já se pora, e Thomás estava imerso, perdido em meio a tantas lembranças, não apenas suas, mas de uma série infinita de grandes outros, sentimentos, acontecimentos, culminações de tempo e espaços paradoxais convergindo num mesmo ser num ponto de emergência. Memórias de povos e lutas antagônicas, os mesmos fatos, sentimentos diferentes, as mesmas sensações, fatos diversos.
A sua percepção do universo fora afetada naquele lugar, cada toque em um objeto era uma vida que retornava, uma retomada ao infinito de algo que há muito já foi. Mas ainda assim, nada daquilo lhe tocava como parte de sua própria história, e nostalgia, não era bem o que sentia. Algo nele insistia para que continuasse procurando, persistisse numa busca de algo que ele nem mesmo sabia o que era – mas esperava ser capaz de reconhecer quando encontrasse.
Thomás não fazia ideia de quanto tempo havia se passado, quando, ao longe, viu um brilho forte e incomum em meio a uma pilha de trecos no canto oeste da loja. Aquilo lhe era estranho, pois a loja era pouco iluminada, e o sol agora brilhava sobre outra parte do globo, não havia nada ali que pudesse conferir tal brilho àquela peça. Andou até a pilha de velhos objetos, mantendo seus olhos fixos no objeto luminoso, tendo certeza de não perde-lo de vista nem por um milésimo de segundo.
Quando chegou à pilha de antiguidades, começou a ver algo próximo de um contorno do objeto, mas sem saber ainda, ao certo, o que era; quando mais perto, percebeu que era menor do que imaginava, e talvez coubesse na palma da mão. Thomás, sem saber e questionar-se o que era o objeto luminoso, agarrou-o e foi invadido pela sensação que o homem do bigode grande havia descrito horas antes: ele enfim entendia, ou melhor, sentia o que de fato era nostalgia.
Ele nem ao menos tentou olhar o que era. Simplesmente fechou com força a sua mão, para que aquele sentimento nunca escapasse. Sentou-se junto a uma parede, e adormeceu como não fazia há longas noites. Sonhou com seu velho amigo, Freud, o cachorro. Eles haviam se conhecido, digamos assim, quando Thomás tinha cinco anos, e Freud acabara de nascer. E assim foi por doze anos, quatro meses e cinco dias – ele contou – até que Freud morreu.
Por muito tempo, Freud foi único amigo que teve, e durante a vida, provavelmente, o único que nunca lhe abandonou. Embora soubesse, de forma racional, por que o amigo tinha de partir, seus sentimentos não eram capazes de aceitar, e através deles, talvez ele nunca entendesse a razão pelas quais as coisas que amava lhe eram tiradas a força, arrancando, cada uma delas, consigo um pedaço de sua alma.
Seu sonho foi o reviver de um episódio da infância: Freud tinha cerca de sete meses, quando Thomás lhe trouxe a primeira coleira. Aquilo lhe serviria, não para prendê-lo, mas para impedir que o amigo se perdesse, sem que, ao menos, alguém pudesse identificá-lo. Quando mostrou a coleira em forma de osso para seu amigo, ele parece não ter gostado muito; a primeira reação de Freud foi abocanhar a coleira, e correr por toda a casa.
Thomás pôs-se a correr, e quando conseguiu agarrar a coleira que Freud mordia, entrou numa briga para tirá-la da boca do jovem, mas forte animal. Quando conseguiu, a coleira em si estava completamente desfiada, e na plaqueta de identificação com o nome do cachorro e o telefone, havia duas marcas de dente.
O sonho mudou, agora vivia a lembrança de quando o pai morreu – não passara muito tempo desde que tinha completado dez anos. Lembrou-se de como sua mãe foi arrasada, tal como uma bela cidade, um século antes, foi dizimada por uma bomba; para ele, era um duplo golpe: ver o pai sumir e a mãe definhar... isso lhe matava aos poucos, do jeito mais cruel que poderia.
Mas também lembrou de como Freud e Ian, seu único outro amigo na infância, estavam sempre juntos, tentando anima-lo. Ian tentava dizer alguma coisa que sabia ser capaz de levar Thomás para longe da dor; Freud, o cachorro que sempre se divertia e ficava incrivelmente feliz com sapatos velhos e ossos de borracha, agora recolhia-os pela casa, depositando na cama de Thomás.
Quando acordou, os raios do sol entravam pelas poucas áreas das vidraças que não estavam cobertas de poeira. Sua mão ainda estava fechada, o objeto dentro dela não brilhava mais, no entanto, apesar da ausência de brilho físico, a sensação permanecia e iluminava seu espirito. Ele então abriu a mão, e se deparou com uma pequena plaqueta de identificação no formato de um osso. Na plaqueta havia cravado a identificação de um cachorro chamado “Freud”, e embaixo, duas marcas de dente.
Aquilo para ele era impossível. A placa havia se perdido há muito tempo; quais eram as chances de que ela aparecesse para ele naquele lugar? Não tinha resposta para nenhuma pergunta que pudessem lhe fazer sobre o que sentia ou sobre aquele lugar, e talvez nem precisasse. Algumas coisas, ele já com certa idade, sabia que era melhor apenas aceitar.
Com a plaqueta fortemente segura em sua mão, ele se dirigiu até o balcão, para falar com o homem do bigode grande. Quando ia perguntar-lhe o preço, o homem se adiantou e começou a dizer “ah... parece que você se encontrou, meu amigo! Fico feliz de ter-lhe ajudado. No entanto, agora precisamos fechar a loja... Sabe, alguns ainda precisam dormir, não é?”. Ao dizer isso, o homem riu e foi empurrando Thomás para fora, sem dar-lhe chance de responder ou ao menos agradecer.
“Calma”, disse Thomás, “eu não sei que diabos foi isso tudo que aconteceu, ou mesmo seu nome”. Ao passo que o homem, ainda empurrando-o para fora da loja, porém, agora um pouco mais devagar, respondeu: “bom, o que aconteceu aqui, acontece todo dia, em todo lugar… perdas, encontros e desencontros - mas isso não adianta explicar, você tem de perceber por si. Quanto ao nome, eu, antigamente, tive vários. Hoje nem tantos… a maioria se desfragmentou com o tempo, e no tempo, assim como as dunas de areia também se desfazem com o vento; configuram-se e reconfiguram-se numa dança sem começo nem fim… mas bem, isso é assunto para um outro encontro, velho amigo. Nos veremos numa próxima oportunidade”, disse o homem, lançando Thomás para fora da loja e batendo a porta atrás dele.
Thomás, já fora da loja, não precisou olhar de volta para sua mão para ter certeza de que sua dose de nostalgia ainda estava consigo. A sensação que a plaqueta de metal passava, irradiava por todo seu corpo, e por mais que não quisesse pensar em nada, o sentimento de alegria, e tristeza marcava-lhe como um rastro explosivo que queimava de fio a pavio.
Começou a andar e pensar que, quando chegasse em casa, talvez, pudesse voltar a escrever. Uma história sobre uma loja nostálgica, um homem sem cachorro e que não dormia; talvez fosse algo que alguém leria. Depois de alguns passos, achou que talvez pudesse voltar ali - quem sabe quantas mais coisas magicas ele poderia encontrar.
Olhou para trás, tentando firmar em suas lembranças o lugar no onde a loja se situava, mas quando virou-se, tudo que viu foi um velho prédio queimado e aos pedaços. Nada restava, além de uma placa já desbotada, que fazia propaganda de uma empresa de localização via satélite para veículos automotivos, na qual, com certa dificuldade, ainda se podia ler: “sempre presente, caso precise se encontrar”.
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Laelson Matos
laelsonmrj@gmail.com
Nascido em 1991 na Bahia, é músico e aspirante a escritor, um apaixonado por lasanha e café. Atualmente, estuda e pesquisa na área de psicologia, psicanálise e análise do discurso. Parte do pressuposto de que nenhum escrito vale a pena ser feito se não representar, logo de imediato, o descaminho daquele que escreve: é preciso transgredir, torcer e fazer ranger.
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Vinte Anos de Sonho
Eu tive um sonho. Sonhei que 20 anos passavam em um piscar de olhos.
Sonhei que o ar já tinha um peso diferente, que não escutava mais com tanta clareza e que as cores já não tinham tanta vida.
Meu corpo tinha prazo de validade atingida, meus dias já não eram Mais de vida, mas sim Menos de vida. Lembro que era estranho encarar o envelhecimento, do quanto esta condição vital se manifestava no nosso processo, do quanto meu psicológico tinha que aprender com as diferenças num período de tempo tão rápido e no quanto isso me confundia.
O fato é que escolhemos mergulhar no comodismo dos ‘golden years’ e os eternizar com toda a ilusão da eternidade. Esquecemos o que realmente nos traz paz e trocamos por aceitação social. Seguimos invisíveis regras covardemente apelidadas de “boa educação” e assim nos tornamos peças soltas que são encaixadas de qualquer maneira em qualquer lugar para formar uma comunidade sustentável de figuras ocas.
Lembro-me de reconhecer certos hábitos absurdos e degradáveis para mim mesma. Não me refiro ao abuso de droga, alcool ou qualquer coisa que seja classificada como principais causas de rebeldia, mas sim de decisões tomadas de forma tão injusta para com a minha obrigação de ser feliz, me refiro à aceitação de condições de preconceitos de gêneros, de condutas e até mesmo, quando meu processo de conscientização ja havia se iniciado, à condição de compreensão com o tempo do desenvolvimento de consciência das pessoas.
A sociedade brinca de aceitação, orgulha-se da aceitação, mas esta mesma sociedade sofre de uma doença chamada Hipocrisia, que consiste em: “ fingimento, falsidade; fingir sentimentos, crenças, virtudes, que na realidade não possui.”
Eu, 20 anos mais velha, contei com a presença desta mesma sociedade, ela estava presente, sempre esteve e sempre buscará estar lá. Porém senti falta do que, apesar de todas as diferenças, tem um defensor a gritar todo o tempo dentro de nós “Ame sua família e amigos”.
Minha família com o passar dos anos passou a adotar uma conduta comigo tão excessivamente respeitadora que algumas vezes parece que são proibidas de brincarem comigo livremente, com isso, perdi a diversão daquelas genuínas gargalhadas após alguém dizer algo desparatado.
É difícil fazer novas amizades, sabiam? Dá preguiça conhecer as pessoas supostamente novas e reconhecer a mesma personalidade de outras, com histórias repetidas. Após anos de experiência em pertencer a sociedade, histórias se repetem e é completamente possível que você conheça a mesma pessoa por duas ou três ou mais vezes…
O padrão se repete, o casamento continua sendo o contrato de felicidade mais desejado do mundo. Vamos falar em amor? Amor é o sentimento mais puro, sim, a mídia tem razão nisto, nós nascemos amando todo o mundo, cada um de maneira diferente, com o resultado das energias reunidas para aquele encontro. Inveja, ódio, competitividade excessiva, ciúmes… são sentimentos criados de forma artificial, isso não deveria ser produto nosso, não os repassem por favor!
Depois de 20 anos sou velha, é assim que a isenção de certos impostos me chama. As pessoas me respeitam, hoje vejo o muito da verdade que poderia ter vivido e não tenho paciência para pessoas com prioridades invertidas. Então tenho duas alternativas:
Posso desfrutar do cuidado e paciência excessivos com o meu corpo e mente velhos para reclamar e tirar proveito de tudo que puder, posso criticar tudo e a todos, posso testar diversas opiniões e por mais malucas, irresponsáveis e descabidas que sejam as pessoas vão encarar como fruto da minha experiência. Posso passar meus dias jogando com a minha idade e ‘posição social’ e me arrependendo por ter desperdiçado uma vida, MINHA vida.
Ou posso, uma vez me aproveitando do título de Experiente, tentar fazer as pessoas enxergarem que a vida é o agora. A ansiedade prejudica a nossa paz imediata, aliás, a paz e felicidade são estado de espírito, são práticas, não são troféus. Posso tentar te convencer a amar as pessoas, respeitar a energia única que você forma com cada indivíduo deste universo e use da maneira que o seu coração indicar. Posso aproveitar os momentos com meus amigos e família como se fossem a ultima vez, que por sinal, que sensação curiosa… é um misto de desapego sem culpa com a maior gratidão que existe em mim… experimentem!
Caso vocês não tenham percebido, eu escolhi esta ultima opção, ao invés de existir por mais um dia, escolho viver a verdadeira minha vida. Escolho fazer de mim mesma a minha melhor amiga, escolho criar um universo diferente dentro de mim, com as minhas regras e consciência. Eu sou a juíza da minha eternidade.
Vovó Pê.
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Criei a personagem Vovó Pê depois de um sonho em que via minha vida 20 anos no futuro, ela busca trazer compreensão e coragem para os leitores de uma forma sincera e realista. Meu nome é Jackeline e é uma honra dividir minhas reflexões com vocês. Obrigada e parabéns Revista Avessa pela oportunidade de repassar sonhos e ideologias.
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Jackeline Cajueiro
jackelinenabuco@gmail.com
Manifesto da ABM
A Associação Brasileira de Moços faz saber por meio deste, o seu descontentamento com a abertura do Cinema Jewel na cidade de São Paulo. Este antro de obscenidades e depravações vai contra tudo o que cidadãos honrados devem seguir!
Não podemos permitir que nossos jovens sejam expostos a estas atrocidades que os modernistas chamam de filmes. Já é de nosso conhecimento o tipo de patifarias que esse meio reproduz. Ladrões exaltados como heróis! Personagens mitológicos que seguem deuses pagãos! Vagabundos charmosos, que aqui já alcunham por Carlitos! Moças agindo em desacordo com o código de conduta cristão e jogando suas tentações nos olhos desprotegidos e inocentes de nossos filhos!
Já se vão assim tão cedo os bons dias que o vosso entretenimento era puro e limpo dessas maldades? Lembrai-vos dos tempos em que corriam livremente pelas ruas e campos, sem mau pensamento que lhes atacasse as ideias. Ou já se fazem rasas vossas memórias?
Pensem nas suas crianças. Nos seres de luz e purificação expostos aos malefícios deste novo século! Precisamos agora conservar nossos valores e os bons costumes, e impedir que nossos meninos sofram essa influência das patifarias modernas!
Essas chamadas “tecnologias” incitam à violência, o mau-caratismo, a promiscuidade e ao pensamento de libertinagem. É de suma importância extirpa-las da nossa sociedade paulistana e abraçar os antigos e lindos costumes da nossa geração.
E que geração a nossa! Reuniões dominicais para ler e discutir a bíblia com todos os meninos do bairro, passeios pelo parque trocando olhares sinceros e puros com nossas pretendidas, e vez por outra até uma inocente escapadinha para atiçar dois negros e apostar na luta. O divertimento é importante, mas não necessita de instigar comportamentos vândalos em nossos jovens meninos. Se faz necessário instigar suas mentes brilhantes, e de promissor futuro, com atividades de bom grado e de acordo com a moral cristã.
Convocatória para o dia 15 de abril de 1907
Convocamos a todos e todas para protestar contra a abertura desta filial de Sodoma e Gomorra na nossa belíssima cidade abençoada de São Paulo. Estaremos nos reunindo a partir das dez horas da manhã em frente à Praça do Patriarca. É desejável que se leve tintas, cartazes e demais materiais para confecção de placas.
Impediremos este estabelecimento de propagar a maldade nos pensamentos dos jovens, e vamos mostrar que a força do cidadão honrado atravessa a todo progressismo mau caráter! Essas ideias que visam nada mais que perverter nossas morais, não terão espaço nesse Brasil. Não no meu, não no vosso e principalmente não dos nossos meninos!
Tragam vossas famílias e amigos, e juntos iremos advogar pela liberdade!
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É escritor, roteirista e jornalista. Foi publicado na antologia da Editora Lendari “Creepypastas: Lendas da Internet” e na coletânea “Crônicas Faquianas” da UPF Editora. É autor da história online “O Diário de Igor Jankov” e possui alguns contos espalhados pela internet.
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P H Ludwig
wattpad.com/user/PHLudwig
instagram.com/p.h._ludwig
Memorabilia
Minha cabeça encostou no vidro do trem, e o deja vu me acometeu. Tantas vezes tinha parado naquela exata posição, embora meus destinos fossem sempre diferentes. O sangue de viajante pulsava em minhas veias, desde criança. Gostava de imaginar que iria à todo lugar quando crescesse, desbravar o desconhecido, tornar-me íntima dele.
Meu destino, desta vez, é para casa. Fazia um ano que não ia para lá, pois meus pés me carregavam sempre para o próximo destino, para o próximo grupo de pessoas, para novos sabores. Como chef, trabalhava bastante e guardava muito dinheiro, sem tempo de gastá-lo. Um dia, resolvi pegar minhas malas e parti.
Um ano sabático só para mim. Eu contra o mundo.
Como todas as coisas boas, aquilo também estava acabando. Era o momento de voltar à realidade, e aplicar tudo que aprendi com as culturas diferentes, falar pequenas frases em línguas que em nada soavam com o português, organizar as paisagens cujos momentos decidi capturar em fotos.
Moro na Luz, portanto a viagem é longa, partindo de Paranapiacaba até lá. O Expresso Turístico tem a aparência antiga. Com o cotovelo apoiado no fino parapeito da janela, meus olhos percorrem a paisagem que passa ligeira, as nuvens de neblina condensando, perpassando, sinuosas, pelas grandes árvores.
Me perco no verde, minha mente sendo projetada para a Suíça e suas planícies verdejantes; as montanhas cujos picos cobriam-se de neve nas estações frias e cujo solo tingia-se em intensos matizes de cores. As árvores, que tinham suas folhas finas e pontudas, davam-lhes formas similares às de setas e apontavam para o céu azul e límpido. O sabor do chocolate suíço, cremoso e acetinado, invadiu-me a boca.
O branco esfumaçado da neblina, do lado de fora, me catapultou para a cinzenta Londres; estava quase sempre coberta por ela, como se envolta num delicado abraço. Se fechasse os dedos, sob eles quase podia sentir a textura da Ponte Blackfriars - onde o encontro entre o passado e o futuro acontecia numa estrutura tão elaborada.
Passado Pensando nisso, fui levada para as construções de tijolos vermelhos da Toscana. Ah, o cheiro de uva dos vinhedos perfumosos... Se fechasse os olhos, conseguia inalar o frescor e a doçura das frutas, e o sublime mesclar de álcool no vinho. Lembrei da cremosidade do queijo, do barulho crocante do pão recém feito, quando o apertei entre os dedos - era um prazer.
Flores, que fisgavam minha atenção aqui e ali na paisagem de fora do trem, possuíam tons similares às cerejeiras de Tóquio. O murmurar no trem, tão baixo que soava desconexo, como o idioma ocidental cujas sílabas faziam minha língua curvar. Os encorpados flocos de neve, caindo devagar, sem nenhuma pressa, empilhando uns nos outros e formando montes alvos pelas ruas, pontes e nos telhados.
Sorrio, tocando com a ponta dos dedos meu lábio inferior, sentindo o toque fantasma de outro, mais fino e macio, que capturaram os meus enquanto palavras atrapalhadas escapavam-me, e o carinho de mãos enluvadas tentavam esquentar as minhas, nuas, trêmulas não só pelo frio. Os cabelos negros e aqueles olhos incríveis — como se os sentimentos estivessem concentrados nos orbes, e os escurecessem num tom nunca antes conhecido; talvez aquela fosse a real matiz do desejo. Yamashita tinha uma voz suave que combinava perfeitamente com os sinos que tilintavam nos templos japoneses...
Enquanto lá a neve caía gentil, em Nova Iorque fazia uma nevasca forte e o vento, tão gélido que doía-me os ossos, marcou-me enquanto andava pelas ruas da Times Square. O ir e vir intenso de pessoas, e o vapor que escapava dos bueiros, dando um ar gloriosamente decadente à selva de pedra. Lois destacava-se em suas roupas de grife em meio ao inverno, e John sempre fazia boas escolhas de restaurantes.
Todo aquele gelo seria facilmente combatido com o gosto amargo de um bom mate argentino, que lembro-me de ter saboreado na gloriosa Buenos Aires. Que cidade maravilhosa... Visitei o bairro de La Boca, chamado Caminito, com a energética Martha.
Descobri-o tão colorido, que bem podia competir com o arco-íris simples, mas fascinantes, do conglomerado de casas localizadas quase à beira da praia de Parga. As límpidas águas eram incríveis no território Grego. Suas ondas embalavam meu almoço, composto de uma porção excelente de dolmades - carne, arroz e legumes, enrolados em formato de charuto numa folha de videira. Um molho bem temperado, é claro, acompanhava aquela maravilha; assim, o sabor e a vista se complementavam.
A Grécia me marcou pela animação daqueles com quem fiz amizade; em especial, as risadas de quando quebrei um prato sem querer, só para depois ouvir mais vidro estilhaçar no chão - um costume deles. O sorriso no rosto de meus amigos, celebrando e compartilhando aquela felicidade comigo, encobrindo o embaraço daquela gafe. Os melhores que se podia pedir.
Parga compartilhava o Mediterrâneo com a praia de Deauville, e consigo até sentir o cheiro fresco daquele prato cheio de mariscos que tinha pedido para acompanhar a vista. Lá, Jacques e eu conversávamos sobre política e literatura, acompanhados de um bom vinho e um queijo ainda mais excelente.
Era um tour recheado de paisagens gloriosas e comidas inesquecíveis. Receitas que anotei em meu caderno, igualmente abarrotado com pequenas lembrançinhas que consegui pegar destes maravilhosos lugares. Em cada um deles, sons e cheiros diferentes iriam me embalar numa memória doce e vívida pelo restante de meus dias. E, o que me deixava ainda mais contente, cada um ligava ao outro. Ao menos, em minha cabeça.
Mais do que as paisagens, as pessoas sempre estariam em meu coração. Cada um com suas peculiaridades, os sons únicos de suas risadas, o jeito especial de ensinar algo a quem estava disposto a aprender tudo que podia.
Nunca esqueceria, também, daqueles lábios.
Aqueles belos olhos.
Do som de seu nome escapando de minha boca. Do cheiro de inverno, de chá matcha, do toque terno.
Yamashita...
Gentil, paciente, entusiasmado e educado.
A dor da separação era só mais uma das sensações que reverberavam em meu ser, trazendo um gosto doce-amargo.
Deixara o telefone, o endereço e meu nome, mas sem saber se ele me procuraria como tanto queria.
A incerteza era ruim, mas também era ótima. Gostava de estar bem no meio, sentir a expectativa do que viria a seguir. Viajar era como dar um salto de fé: você sabia onde estava indo, mas não fazia ideia de quais seriam as consequências daquilo, quais os resultados. A imprevisibilidade era de tirar o fôlego.
Se Yamashita me procurasse, a felicidade de ver seu rosto me preencheria; se não, sempre o teria guardado em minhas memórias mais preciosas, debaixo de uma cacofonia poética de sensações e sentimentos - preservados na mais pura estima, no mais puro amor. Sim, amor, porque também era feito de paixões e momentos finitos, que mesmo breves, não eram menos marcantes ou menos significativos.
Foi no final de minha jornada que me peguei pensando: não fazia ideia de que estávamos formando memórias tão belas, ocupados demais em apenas se divertir.
Formá-las era automático, natural; tanto quanto respirar. Me dar conta de cada passo feito, que produziu outro sorriso em meus lábios, sentindo meu peito apertar com a ânsia de que o tempo voltasse, e assim pudesse reviver cada passo.
Da xícara de chocolate quente sobre a mesa, diante da janela, por onde podia-se ver a neve caindo.
O cheiro de sal e um frescor de menta, enquanto meus olhos percorriam as casas coloridas.
A luzes, as roupas chiques, o ar metropolitano nova iorquino.
O som da cumbia em bares argentinos.
Passear pelo deque às margens da praia francesa.
O toque quente da mão de Yamashita na minha.
Num piscar de olhos, pelo restante da minha vida, podia me transportar para aqueles lugares e reviver as memórias quando quisesse.
Sinto o ardor da saudade inundar meu peito, e sorrio para a paisagem do lado de fora do trem.
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Mayra Pamplona
Mora na cidade de Franco da Rocha e cursa Tradução e Intérprete. Sempre sonhou em ser escritora. Começou a carreira literária em 2017, na Antologia “Amor Sem Limites” (Selo Editorial Arkanus). Também está nas antologias: “Romances de Época” (The Books Editora), “Encontros & Reencontros” (Delirium Editora), ”Estelar” (Editora Polaris), “Eles estão entre nós” (The Books Editora) e “Além do Arco-Íris” (Editora Rouxinol).
mayra.cn.pamplona@hotmail.com
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Momentos de
Foi um vento diferente... em meio aquele lugar tão quieto e triste. Envolto por lágrimas de dor, despejadas por tantas e tantas gerações. Eu senti... que ela enfim, reencontrou com seu grande amor.
Foi isso que vi, quando o caixão de minha avó baixou à sepultura, onde estava meu avô, seu marido.
O vento soprou diferente, estava em uma única direção. O silêncio cortava o lugar; não ouvi nenhum som. Tudo se tornou quieto e vazio, apenas um grande suspiro de alívio, como se enfim; a saudade de tantos anos tivesse acabado e, o reencontro de um grande amor, tivesse chegado ao fim.
Foram anos te vendo chorar por ele, cantar para que a solidão fosse vencida e a recitar o salmo 23, pois esse lhe dava alívio sobre a dor da ausência de meu avô. Na época, não via com os meus olhos de hoje, criança não enxerga tanto sentimento assim, mas guarda. E, eu guardei os seus e os meus e, hoje vivo, nessa nostalgia.
Acabou... Agora estão juntos numa vida eterna...
Agora, só me restam às lembranças e os momentos de aprendizado que passei ao seu lado, desde o meu nascimento. É da minha infância que tenho mais saudade, onde fugia de minha casa para ficar na sua, como faz o meu filho hoje, para ficar com minha mãe. Deve ser genético!
Quando a senhora fazia bolo de fubá e eu mexia os ovos, ficava admirada em ver a reação química dos ingredientes se tornarem o bolo mais gostoso que já comi na vida! Nunca consegui fazer igual. Era sua mão que dava sabor a massa e não os ingredientes. Foi te vendo fazer bolos e doces que agucei meu talento pra cozinha. Embora, nos últimos anos, fosse o meu bolo que a senhora quisesse saborear.
E fiz, o último bolo de fubá para o seu aniversário de 85 anos, mas uma bendita gema caiu no meio das claras e desandou minha massa. Coisa que não fazia diferença em suas mãos, pois mexia a massa de qualquer jeito e, ficava maravilhosa! A reação química da sua massa tinha um ingrediente infalível, o amor.
Hoje, desci as escadas de minha casa e não tem pra onde olhar a não ser para a quantidade de plantas que cercam todo o quintal, plantas tão antigas, quanto o meu nascimento, muitas delas são avós, filhas, netas... mudas que foram replantadas por suas mãos e, agora, pelas mãos do meu filho. Genética!
Tento manter as plantas. A propriedade ficou vazia, sem a dona que dava vida ao verde do quintal. Por diversas vezes, eu ficava admirada em ver um simples galho se transformar numa planta viçosa. Mãos abençoadas... Esse talento eu já não tenho, mas foi dado a meu filho. Fico grata que herdou tão belo dom.
Quando estava em seu velório, te ouvi me chamar. É claro que sua voz ficou arquivada no meu subconsciente. Por diversas vezes, me chamou; enquanto eu caminhava naquele corredor solitário, na parte de trás daquela igreja em que a acompanhei por tantas e tantas vezes. Foi naquele lugar, com idade de cinco anos em que tive minha primeira experiência sensorial. Nunca vou me esquecer. Quando escutei uma doce canção ser tocada pelo antigo órgão da igreja, senti o som de violinos dentro de mim, como se algo estivesse me chamando. Emocionei-me... Foi tão inesquecível que até hoje me recordo. É como se tivesse voltado lá... no tempo... agora.
Sei que o tempo ameniza a dor, cicatriza mais uma ferida, mas a marca dessas lembranças, vai ficar e, sempre será lembrada, nesses doces e nostálgicos momentos, em que me pego voltando no tempo, voltando no exato espaço em que preservo essas memórias. E, se eu olhar com a destreza da tua experiência, posso retorná-los sempre, com carinho e mansidão de alma.
Valeu a pena de ter, crescer contigo e aprender que, laços de família jamais se quebram, são eternos.
Nostalgia
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Domenica Carneiro
Carioca, graduada em Letras e amante de Literatura. Autora do livro Subjetividades da Alma – Coletânea de Textos, escreve pelo pseudônimo de “Nicka Scar”. Participou da 18ª edição da Revista Avessa com o conto “Meu cientista espacial”.
domenicke@gmail.com
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O Céu de Ontem
Guardamos incertas imagens dentro de nós e quando menos esperamos são elas que nos assaltam e tomam o controle do tempo. Noutros momentos precisamos visitá-las para sentirmos aquele sopro de vida a nos empurrar pra longe da tempestade, pra além do abismo da calmaria. Esses recortes de vida se confundem com uma cena de filme, um trecho de música, palavras dispersas de um livro. Mas a diferença é que foram compostas por nossas experiências e entalhadas nesta carne que habitamos. Somos poeira do tempo e um dia retornaremos para ele, talvez não como estrelas, mas na fragilidade de vagalumes frente à noite imemorial da eternidade.
Não quero falar da foto presa na moldura, aninhada na estante. Aquela imagem empoeirada, congelada na solidão do tempo. Quero parir essa memória viva, torcer o pescoço do cisne moribundo até que ele cante mais uma vez. Lá estou eu ao lado de meu irmão mais velho. Ou ao menos aquele que fui nalgum momento. As imagens são fagulhas que vão se montando no seu ritmo frágil e desordenado e têm cores próprias. O quintal da casa parece imenso pelos meus olhos de ontem, com seu pé de goiaba, de amora, de romã, de mexerica. Ou era limão? Memória agridoce. Tinha também uma mangueira imponente que eu sonhava conquistar. Tão grande que sua copa mal cabe na minha lembrança. O tronco baixo da jabuticabeira me permitia subir mais fácil e espiar a vida alheia dos vizinhos. Atrás da casa um menino com quem eu nunca consegui me comunicar para além do muro. Às vezes eu o via, de relance, ou ouvia sua voz distante. Estranho pensar agora que nossa conversa era baseada num código diferente, em objetos que voavam de um lado para o outro. A bola caiu sem querer ou foi ele que me atirou? Na dúvida, joguei de volta. Uma vez achei um estilingue que eu nunca usaria. Arremedo de pacifismo ou convite ao armamento? Numa outra vez, foi uma bolinha de gude estilizada, com manchas que lembravam um planeta distante e inexplorado. Considerei o meu próprio B612. Da minha parte, deixei meu pirocóptero de luz ficar por lá, depois de um inesperado voo que atravessou o muro. Era justo, eu tinha ficado com o planetinha, ele com o transporte espacial. E ainda arremessei para o lado de lá um pião a quem eu nunca pudera dar vida, e também porque eu ganhara outro, sonoro, de fazer inveja. Um mimo dos meus pais ao garoto que passava mais tempo doente e internado do que em casa. Eu fazia por merecer, afinal. Eu não poderia contribuir mais ao diálogo voador, meus brinquedos eram o meu tesouro, minha oficina criativa. Nada equiparável, claro, ao rigor marcial com que meu irmão cuidava dos seus. Ainda é incrível lembrar como ele sempre descobria se eu invadia os domínios do seu guarda-roupa. Nunca pude desvendar a estratégia ou o sortilégio. O quarto que compartilhávamos foi por muito tempo nossa zona de guerra. Felizmente o quintal era o território desmilitarizado, a zona neutra. Ali podíamos misturar nossos brinquedos, reunir nossas diferenças, bolar algumas cenas de filmes de ação. Eu queria ser um policial, como meu pai. Mal sabe meu velho que a cada disputa de egos no colégio elevava sua patente. No final do primário, de soldado já acendera a capitão. Já meu irmão preferia ser piloto. Cultivava essa ideia desde muito tempo e chegou a se corresponder com uma escola preparatória. Tinha carteirinha e tudo, não sei se por ter feito algum curso à distância ou por ter se inscrito em algum programa de formação. O fato é que as miniaturas de caças e aeroplanos, as revistas sobre aviação, faziam parte do tesouro dele. Quando quebrei a minúscula asinha de um de seus aviões, foi deflagrado um conflito. O armistício foi assinado por intervenção do chefe do estado maior da nossa casa, minha mãe. Mas a guerra fria continuou e se definiu nosso muro de Berlim, uma linha imaginária separando as camas e os brinquedos. E também os gibis, tão caros à época, ainda mais para nós, os filhos do subúrbio e herdeiros da inflação. Muitas dessas revistinhas eu consegui naquelas temporadas confinado na Santa Casa da cidade onde cresci. Era a forma talvez de meu pai me compensar a solidão, trazendo a cada visita um gibi, uma garrafinha de coca-cola e um doce. Ele sozinho era Baltasar, Melquior e Gaspar. Além disso, devo confessar com o despudor do tempo, que volta e meia, fora dali, me esquecia de devolver alguns gibis aos amigos mais desmemoriados. Fui acumulando um estoque invejável de turmas da mônica, walt disneys e alguns poucos heróis, bem mais caros em geral. Alguma coisa também de Tex, Recruta Zero e Luluzinha. Quantas tardes me perdi entre aquelas páginas, coloridas ou em preto e branco, rindo, chorando ou simplesmente em suspenso, vivendo meu outro mundinho à parte. Até que, já mais velho um pouco, descobri a biblioteca pública, onde me confinava durante tardes e tardes, hoje tão remotas.
Aqui estou eu, diante do computador e do editor de texto, pedindo passagem à memória. Cheiro uma pitada de rapé, hábito adquirido com a idade, herança de um antigo professor de latim. Tudo está quieto, com exceção de meus dedos renitentes diante do teclado. Entre uma taça e outra de vinho observo a lenta progressão do azeviche. Aprecio o gosto do tempo que se desprende do carvalho. As lembranças muitas vezes são a plantinha que sobrevive à força da tempestade graças ao sacrifício de uma grande árvore. Me dou conta que é inútil tentar decifrar a imagem daquela noite quando, no quintal de nossa infância, meu irmão e eu vimos no céu um fenômeno estranho. Por uns instantes que não poderia jamais precisar, riscou o espaço distante uma luz, logo eram dois ou três riscos. Como se uma mão oculta desenhasse no vazio entre as estrelas um código oculto. E nós ali juntos, embasbacados, absortos pelo espetáculo. Não sei se ficamos em silêncio, mudos de contemplação, se falamos algo. Nunca entendi o que foi aquilo e nunca conversamos de fato a respeito. Só sei que neste momento, como em outros, a garrafa já seca e os olhos úmidos, gosto de voltar pra lá e quem sabe me perder no caminho de volta, como quem nunca precisasse dizer adeus.
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Wellington Fioruci
carlosdrummond36@gmail.com
Nascido em Assis-SP, vive no Paraná há vinte anos. Ensina literatura na UTFPR. Organizou dois livros teóricos “Vestígios de memória: diálogos entre literatura e história” e “Correspondências: literatura e cinema”, pela editora CRV. Premiado em 2014 pela Editora da UFF com um conto “O clube dos esquecidos”
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O Circo
— Já soube da novidade?
Essa era sua frase usual para me contar algo novo que com certeza eu não sabia. Às vezes, me questionava como ela poderia saber de tudo o que acontecia, mas assim era ela.
— O circo está na cidade, bora?
Minha resposta era indiferente, ela nunca ouvia mesmo. Mal acabava de falar e já me puxava pelo braço. Não era forte, nada disso... Com o dobro de seu tamanho eu poderia facilmente resistir, mas não o fazia. Deixava-me levar por sua leveza, a alegria que irradiava daquele ser magnifico alimentava minha alma de uma forma que eu não conseguia explicar. Outra coisa sem explicação era sua paixão pelo circo. Enquanto todas aquelas cores e sons me deixavam impaciente, ela parecia amar. Não importava se era novo ou velho, ou que atrações trazia. Se tinha um circo na cidade sua presença era coisa certa. E a minha também, por consequência.
Me lembro de ter tido dois ou três ataques de pânico, em momentos em que ela e sua peraltice me voluntariava para algum ato ou brincadeira. A pior delas foi quando um mágico me colocou em uma caixa, trancou e por algum motivo resolveu se demorar mais na execução do truque. Bem, talvez ele não se tenha demorado muito... o que atrapalhava, na verdade, era a minha fobia a lugares fechados. Foram necessários dois calmantes e muitas horas para eu me recuperar. E quando tudo se acalmou, lá estava ela rindo e jurando que nunca mais faria aquilo comigo. Mas ela era mentirosa...
A única outra coisa que me fazia apreciar uma visita ao circo além de vê-la se divertir, eram os doces - não havia nada de que eu não gostasse. Às vezes, na fila da maçã do amor ou da pipoca, eu fingia estar ali para comprar para o meu sobrinho. ‘Essas crianças’, eu murmurava, e os pais que ali estavam concordavam. Essa era uma das coisas que faziam-na rir sem parar.
— Como você é falso. - Ela dizia e fazia uma careta.
— Aprendi com você. - Eu respondia. E o jogo continuava.
Aquele circo levantava acampamento e partia, mas outro não tardaria a chegar. E eu sabia estaríamos lá com certeza.
Era Julho quando o novo circo chegou. Como de costume, comprei ingressos para todas as noites de espetáculo. Sem perceber, coloquei a mesma roupa da última vez. Não que eu me detenha a esses detalhes, mas não tinha como não lembrar: era a camiseta preferida dela. Lá dentro, apesar do circo não ser o mesmo, tudo parecia muito igual. Coisas de circo, eu acho.
As cadeiras dispostas em fileiras, os vendedores passeando entre os corredores, oferecendo seus itens indispensáveis para uma boa apreciação do espetáculo - como palhaços saindo de cones e bolinhas que brilham. Minha expectativa, como de costume, estava me deixando ansioso. Não que eu não conhecesse tudo aquilo de trás para frente... aliás, conhecia bem o suficiente para descer e apresentar as atrações eu mesmo. O que me deixava com o coração disparado era imaginar as reações dela, que apesar de saber tanto quanto eu o que iria acontecer sempre fazia-se surpresa, com suas caretas ou pulos frenéticos.
— Respeitável público! – Gritou o apresentador - Que se dê início a magia do circo!
Foi tudo exatamente como eu me lembrava. Os palhaços arrancando gargalhadas a força com suas travessuras; os trapezistas voando pelos ares como se não houvesse gravidade; o mágico com sua assistente, fazendo-a desaparecer aqui e aparecer ali; o atirador de facas pedindo palmas continuas à plateia enquanto uma jovem presa à tabua sentia as lâminas passarem rentes ao seu corpo. Os mesmos truques dos mesmos artistas, porém tudo estava diferente agora. Não existia mais magia... não existiam mais risos ou caretas. Ao meu lado, percebi, sentava-se uma família que se divertia muito com tudo o que acontecia ali, alheios à minha existência patética.
Ela era o circo, concluo. Tudo o que eu buscava: os sons, os aromas, os sabores, as risadas altas e as expressões de surpresa, tudo isso era ela. Eu não encontraria ali. Não encontraria em circo algum, em nenhum lugar desse planeta ou de qualquer outro. Ela era o circo, ela era minhas fobias superadas, minha paixão por algodão doce, minha disposição para sair de casa todos os dias da semana para ver o mesmo show. Ela era o circo, e agora é saudade.
Volto para casa com o pacote de pipoca ainda pela metade. Olho para a porta, mas não sinto vontade de entrar. A casa antes cheia de vida, com o cheiro de comida queimada, o som alto ligado em algum pop de mau gosto, os gatos derrubando coisas de cima de móveis... tudo isso era a melhor coisa do mundo, porque cada pequeno detalhe tinha sua assinatura. As roupas jogadas pelo chão do quarto, as plantas morrendo por conta da sua falta de memória em aguá-las, nada disso existe mais.
Meu universo está menor agora. Sinto minha fobia voltar, me encolho na calçada ao relembrar suas últimas palavras, antes do nosso adeus.
— Sabe, eu nunca gostei muito de circo... só fazia aquilo para te irritar.
Com um beijo de até breve me despeço da parte feliz da minha vida, a parte em que fui capaz de entrar em caixas e aturar palhaços, onde apenas um sorriso bobo, ou um abraço inesperado mudava meu dia.
— Eu sei. - Respondo.
Ela era mentirosa. Não era?
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25 anos, iniciou sua caminhada no mundo da escrita este ano, aspira publicar um romance.
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Angélica Neneve
angelicaalves_14@hotmail.com
O que a Nostalgia
Traz de Volta
Percorro lentamente o que sobrou dos cômodos. As escadas quase desabaram sob meu peso, e o chão do segundo andar estava lamentável, mas eu ainda podia ver.
Não é difícil. Apenas tenho que fechar os olhos e me concentrar, e tudo voltava em um instante. Os corredores podres e queimados se transformavam na casa limpa e confortável das minhas lembranças.
O cheiro de torta de chocolate e de um assado de frango ia para toda a casa. O riso dos meus irmãos e do meu ecoava por cada parede. O burburinho das empregadas era levemente percebido ao passar por perto de onde elas estavam. A fumaça do charuto de meu pai era carregado pelo vento e se esvaia pelo ar.
As lágrimas vem ao me lembrar de minha família. Os momentos bons, os momentos ruins. As lembranças doces, as lembranças amargas. As brincadeiras, as brigas. Tudo isso vem e se mistura na grande extensão mental que chamamos de memória.
Às vezes penso que tudo não passou de um sonho. Que irei acordar e tudo voltará a ser como era; estaríamos de volta à nossa pequena utopia.
Mas a vida não passa de um tenebroso pesadelo. Não importa quantas lembranças queridas eu tenha, todas elas serão suplantadas por apenas uma.
Era noite, e todos já haviam ido dormir. Meu pai havia brigado conosco por nossas travessuras, e fomos deixados sem sobremesa. Rancorosamente nós ignoramos tudo e fomos dormir sem dar boa noite. Eu só acordei quando a fumaça do incêndio já havia infestado meu quarto. Todos nós, patrões e empregados, começamos a correr desesperadamente em busca de uma saída, apenas para sermos cercados pelas chamas.
Eu, em um ato insano, me joguei pela janela, e só acordei no hospital. Mesmo que todos negassem, eu sabia que já não tinha mais uma família, sabia que ela havia sido arrancada de mim.
Depois de todos esses anos, ainda venho aqui me torturar. A nostalgia se misturava com a minha depressão, e essa mistura resultava em uma espécie de vazio que jamais pensei que pudesse existir.
Se penso em me matar? Ouve uma época em que pensei, principalmente quando o buraco dentro de mim parecia se expandir mais e mais.
Por que ainda estou vivo? Quando eu volto para cá, quando penso na época em que minha vida era perfeita, eu ganho ânimo para aguentar. Essas memórias agridoces, essa nostalgia profunda me faz perceber que seria egoísmo morrer. Meu pai e meus irmãos não puderam viver, então é minha obrigação viver por eles.
Um dia trarei meus filhos aqui. Quem sabe eles também tragam seus filhos, e assim nossa história não será esquecida, e nem suas vidas serão enterradas. Afinal de contas, aqui não é de todo ruim, me faz pensar em como tenho sorte de ainda estar nesse mundo, e que a nostalgia, por mais deprimente que seja, é necessária para seguir nossos caminhos e alcançar nossos destinos.
Meu antigo tutor vinha comigo. Depois da primeira visita ele exigiu ficar do lado de fora esperando. Ele jurou que viu dois meninos e uma menina brincando de pega-pega no andar de baixo; três crianças que estavam comprovadamente mortas.
Depois de encarar um pouco, apenas sorri e respondi:
— E o senhor não sabia que às vezes a saudade traz os mortos de volta?
Por alguma motivo misterioso ele desmaiou. Carinha impressionável.
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Giovanna Tenório
Nascida em São Paulo(SP), tem 17 anos, acabou de se formar no Ensino Médio. Apaixonada pelos livros desde que aprendeu a ler, é uma grande apreciadora de livros de aventura e fantasia. Quando não está escrevendo pode ser encontrada com um livro ou em seu computador.
naruhina2012@gmail.com
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O Suave Toque
da Infância
Diziam que com o tempo sempre se detestava a música que era colocada como despertador, mas com ele as coisas não eram bem assim. Ele continuava gostando da música o mesmo tanto e mais que isso de alguma forma ela tinha nele o efeito contrario ao pretendido. Ao invés de lhe fazer acordar lhe fazia sonhar ainda mais.
Era normal a pessoa ter uma certa nostalgia da infância, principalmente porque era uma fase tão boa e que deixava tanta saudade, mas ele sentia que desde a mudança de cidade esse sentimento estava mais forte. Tanto que chegou a colocar a música de abertura de um dos desenhos favoritos de seu tempo de criança como seu despertador. A música parecia lhe transportar para o passado e aumentava a sua vontade de continuar dormindo. Com os olhos fechados era como se a sua infância tomasse forma e o presente fosse apenas um sonho distorcido.
As preocupações e responsabilidades da vida adulta pareciam mais distantes naquele momento. Responsabilidades essas que segundo o que achava atingiram-no como um soco dado de forma repentina. Era como se em um dia estivesse na rua ainda brincando com os seus amigos e no outro tivesse que enfrentar a mudança de cidade para que pudesse continuar os estudos. Claro que teve todo um processo entre essas duas coisas, porém para ele era como se o tempo que separou os dois eventos fosse equivalente ao tempo de um piscar de olhos.
Sentia saudade daquela rua de terra em que corria, saudade de assistir desenho logo após terminar a lição de casa, de subir nas árvores do quintal da sua casa e dos jogos de videogame que tinha zerado. Ele tinha trazido alguns desse jogos com ele. Jogou algumas vezes e uma vez quando o jogo travou ele se pegou soprando o cartucho pensando que assim ele voltaria a funcionar, sem que notasse sorriu ao lembrar de quando era criança e fazia isso. Com exceção dessa vez as outras vezes não tiveram a mesma emoção de antes e nem chegaram a despertar verdadeira nostalgia. Alguns jogos chegaram a gerar somente traços do sentimento, como da vez em que sorriu ao salvar a princesa no fim do jogo, mas logo achou tudo simples demais. Querendo ou não ele havia crescido e já haviam muitos videogames mais modernos.
Ele também achava que os desenhos que passavam na televisão não eram tão bons como os que passavam antigamente. Desenhos bons eram os da época dele. Desenhos em que o herói sempre vencia ou que mostravam corridas malucas, a famosa perseguição de gato e rato, o coelho esperto que sempre enganava o caçador, da princesa que montava em um cavalo de fogo e muitos outros que achava igualmente bons. Alguns por sorte ainda passavam em canais que pareciam apostar na nostalgia de desenhos meio antigos. Mas ainda assim não era exatamente a mesma coisa. E assim passavam os dias.
Foi na segunda semana dessa onda de nostalgia que começou a sentir uma coisa diferente no ar. A nostalgia estava mais forte e mais parecia com uma presença que andava pela casa do que com um sentimento. A diferença que sentiu no ar não era exatamente algo ruim ou assustador era mais uma atmosfera diferente e que parecia envolver tudo que estava ao redor. Tipo uma névoa invisível com cheiro de passado.
Naquela manhã em que a nostalgia estava tão forte que parecia que a qualquer momento ia começar a doer fisicamente ele resolveu que dormiria mais um pouco. O som do despertador cada vez mais longe em sua mente sonolenta, era como se a música tocasse dentro dele e não fora.
Adormeceu ou pensou ter adormecido quando sentiu uma mão macia e morna tocar em seu rosto. Ele morava sozinho no pequeno apartamento devido a isso era de se esperar que ficasse com medo. Abriu os olhos devido ao susto e como reação ao toque.
Espantou-se ao ver olhos semelhantes, mais que semelhantes, iguais aos seus lhe encarando. Era como olhar em um espelho, mas um espelho do passado. Era a sua versão criança. O menino que ele foi em um dia que parecia ter sido ontem lhe sorria. E parecia lhe pedir algo. Tinha o olhar que ele fazia quando queria que os pais lhe comprassem uma moeda ou um guarda-chuva de chocolate no mercado. Logo entendeu que era hora deixar a infância para trás. A criança dentro dele queria se despedir e ir embora, mas ele não estava o deixando ir.
Sorriu e como em um espelho recebeu um sorriso de volta. Sabia o que tinha de dizer:
-Acho que isso é uma despedida.
A mudança tinha sido tão repentina que ele nem tinha se despedido da sua infância como deveria. Disse o tchau que faltou, estilo o que dizia para os seus amigos de brincadeiras. Sabia que a nostalgia da sua infância sempre estaria por perto, mas dessa vez não mais como algo que o impedia de viver o novo presente.
Acordou um pouco depois da despedida. O sonho havia sido extremamente real. Sentia como se realmente algo morno tivesse tocado em seu rosto. Foi nesse momento que notou que um raio de sol entrava pela janela aberta em direção do seu rosto. Enquanto encarava a luz do sol quando uma brisa entrou suavemente pela janela anunciando o novo dia que iria começar.
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Ana Carolina Nogueira
anacarolina877@gmail.com
Amo escrever e ler. Acho que por meio da leitura é possível compreender melhor as coisas que nos cercam; por meio da escrita é possível compreender melhor a mim mesma. Estudo biomedicina na UFPA e sempre que posso estou escrevendo.
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Quando o Ontem
se Torna Mais Bonito
Levi estava no banho quando a ideia surgiu. Precisava ir pra qualquer lugar naquela sexta-feira, menos para o escritório. Não aguentaria mais um dia lá.
O tempo presente tinha perdido todo o seu colorido. Não foi algo que aconteceu da noite para o dia. Foi um processo lento, quase imperceptível, como uma pessoa que sofre de glaucoma e vai perdendo a visão periférica até ficar totalmente cega. No caso dele, foi uma espécie de glaucoma afetivo. Tudo perdeu seu encanto. O chope com os amigos na sexta, o cinema com a esposa no sábado, o jantar em família no domingo e a rotina de trabalho de segunda a sexta-feira. Era como ver o mundo em preto e branco, cada dia uma coleção tediosa de minutos intermináveis.
Ao mesmo tempo em que o desencanto com a vida aumentava, outra coisa acontecia. Lembrava com carinho da época em que equilibrava a faculdade e o trabalho árduo em um supermercado. Um período de dificuldades financeiras sérias, problemas familiares, cansaço crônico, medo do futuro. Sentia cada vez mais uma saudade enorme daquele tempo.
— Vou deixar o carro em casa hoje — disse ele durante o café para a esposa, que lia as mensagens no celular. Preferiu falar quando ela estivesse ocupada com outra coisa, pois tinha medo de que algo em seu olhar denunciasse o que pretendia.
— Tem certeza? Achei que fosse sair com seus amigos hoje. Não é dia do chope com o pessoal?
— O chope anda sem graça.
Despediram-se na porta do prédio. Ela trabalhava perto de casa, ele não. Parado no ponto do ônibus, pensava aonde ir. Sentia o coração acelerado pela simples quebra na rotina. Pegou o ônibus em direção ao Centro da cidade, mas saltou no meio do caminho. Sua mente não parava de trabalhar. Pensou em ir para a casa dos pais, mas abandonou a ideia. Como explicar sua presença na casa deles em um dia de semana? Considerou a ideia de ir para a faculdade, mas lembrou do supermercado. Podia ir primeiro no lugar onde trabalhara e depois na faculdade. Seria como nos velhos tempos.
Ligou para o celular de Silas, seu chefe na repartição. Explicou que precisava resolver questões delicadas com urgência.
— Sei... Questões delicadas e urgentes... Loura, ruiva ou morena?
Mesmo sentindo aversão ao chefe e ao que ele pensava, tentou ser simpático ao despedir-se. Pelo menos a sua ausência no trabalho estava resolvida.
Pegou o ônibus que o levaria ao mercado, a mesma linha de quando não era funcionário público, não tinha um salário confortável, um carro na garagem e uma esposa. Algumas lojas no caminho eram novas, mas boa parte dos prédios continuava igual. Viu uma igreja católica, a torre do sino desenhada contra o céu azul. Era como voltar no tempo. Sentiu um sorriso chegar aos lábios.
Desceu no mesmo ponto em que saltava cerca de 20 anos atrás. Olhou para o supermercado. Sentiu o coração murchar.
O local estava fechado. O letreiro com o nome do estabelecimento havia sido removido, as paredes estavam cobertas de pichações, uma grossa grade de metal foi levantada onde antes ficava a rampa do estacionamento. Ficou parado no ponto olhando o lugar abandonado, sentindo a sombra do presente cobrindo o passado, dominando-o.
Olhou em volta, procurando algum local conhecido. Seus olhos se iluminaram quando viram algo que tinha uma ligação forte com o passado. Nem tudo estava perdido.
Havia uma pequena lanchonete de frente para o mercado. Uma grande janela ocupava toda a parede frontal. Apesar de ainda ser uma lanchonete e ter praticamente o mesmo layout, a placa com o nome mudara, assim como a pintura externa. Na placa onde anteriormente se lia “Coxinha Real” agora havia o nome “Salgados e Companhia”. Era ali que costumava tomar o café da manhã e almoçar, geralmente no início do mês quando as contas ainda não tinham erodido seu salário. Era engraçado pensar que duas refeições em uma lanchonete já tinham sido consideradas eventos luxuosos.
Um sininho na porta tilintou quando Levi entrou. Um homem de cabelos acaju e bigode branco colocava salgados no balcão da vitrine.
— Bom dia, senhor. Um café da manhã pra começar bem a sexta?
Pelo menos o atendimento melhorara. Lembrou-se do antigo proprietário, um careca mal humorado. Geralmente o cumprimentava com um rosnado e se despedia com um resmungo. Se não fosse pela educação e pela beleza da filha, que o ajudava na lanchonete, provavelmente aquilo viveria às moscas.
— Vocês tem misto-quente? E um copo de café.
Levi notou um rosto surgir atrás do homem do balcão. Havia uma pequena cozinha atrás do balcão. A mulher que o olhava, uma senhora de cabelos grisalhos e óculos, lançou um olhar avaliativo e voltou para os seus afazeres.
— Temos sim, doutor. Só aguardar que ele já vem.
Levi escolheu uma mesa de frente para a grande janela. Mesmo com as mudanças, o cheiro do misto-quente sendo preparado era praticamente o mesmo. Olhou na direção do balcão e viu que a mulher o olhava. Desviou o olhar rápido, um pouco constrangido. Seu terno e gravata eram formais demais para o ar casual da lanchonete.
Quando o misto ficou pronto, Levi preferiu comer no balcão. Sentia necessidade de saber um pouco mais sobre o fechamento do supermercado.
A televisão transmitia o jornal da manhã. O balconista puxou conversa sobre economia, violência e os resultados dos jogos da rodada enquanto Levi devorava o sanduíche. Quando terminou, foi ele quem puxou assunto:
—Tem muito tempo que o mercado fechou? O senhor sabe dizer?
— Tem sim... Nós viemos pra cá tem uns oito anos...
— Nove! — gritou a mulher da cozinha.
— Nove anos. E o mercado estava fechando. Já tinham tirado muita coisa daí de dentro. Maquinário, computadores, prateleiras. A vendinha da esquina tinha mais coisas do que eles.
Levi balançou a cabeça. Olhou pela janela.
— É uma pena. Era um mercado muito grande.
— Sim, era mesmo. O chato é que muita gente foi demitida, não tinha como transferir todo mundo. Mas o movimento vinha caindo muito, o lugar vivia às moscas. Nós moramos aqui perto, fizemos muitas compras ali. O senhor não é da vizinhança, né?
— Não, só estou de passagem. Estava por perto e quis vir aqui. Eu trabalhei nesse mercado quando era mais novo. Queria ver como ele estava... Coisa de maluco. – acrescentou Levi com um sorriso encabulado.
— Com a idade a gente vai ficando mole mesmo. E ver uns rostos conhecidos, ou visitar um lugar familiar, é bom de vez em quando.
Pediu mais uma xícara de café. Conversar com o homem da lanchonete estava sendo uma experiência interessante. Mesmo sendo ele um ilustre desconhecido, era como falar com um amigo sobre os “velhos tempos”. O supermercado fazia parte do passado dos dois.
— Eu também costumava comer aqui na época em que trabalhava no mercado. Depois que pedi demissão, nunca mais voltei.
— Ah, então você conheceu o antigo dono da lanchonete, o velho Rubens, que Deus o tenha em bom lugar.
Um resmungo veio da cozinha.
— Ele era um bom homem — continuou o balconista — Meio mal humorado, mas ninguém é perfeito. E sabia fazer um sanduíche de carne assada como ninguém.
— O misto-quente e o café de vocês não deixa nada a dever ao que eu comia quando era mais novo.
O rosto da mulher assomou novamente, dessa vez com um sorriso que a deixou dez anos mais jovem.
— Ele vendeu a lanchonete pra gente. — disse a mulher deixando a cozinha e se aproximando do balcão — Voltou pra terra dele. Só ficamos sabendo que ele faleceu por causa de alguns amigos em comum.
— Engraçado ele ter vendido a lanchonete — disse Levi — Achei que a filha dele iria continuar com o negócio. Ela sempre foi bem participativa.
O homem de bigode branco o encarou, mas não disse nada. Foi sua esposa que quebrou o silêncio:
— A filha morreu antes dele. Depois da morte, o Rubens nos vendeu a lanchonete.
Levi parou a xícara de café a meio caminho da boca.
— Morreu? Mas ela parecia ser bem jovem... Mais nova do que eu na época em que vinha aqui. Ficou doente?
Foi o homem de bigode branco que se apressou em falar, como se quisesse evitar que a esposa continuasse:
— Ela se enrabichou por um homem mais velho. O pai não gostava do namoro, tentou proibir, ameaçou mandar ela para o interior. Não teve jeito. Ficaram noivos.
Levi lembrava muito bem da filha de Rubens. Ele mesmo ficava admirando aqueles olhos e sorriso enquanto tomava café lá.
— Ela era filha única?
— A Celeste? Era sim. E eram só eles dois. A esposa do Rubens morreu quando a filha era bebê e ele não quis casar.
— E aí aparece aquele bode velho... — A mulher resmungou.
— Mas... Ela morreu de quê?
— Coração partido.
— Ah, não, Joaquim! — a mulher estava claramente irritada com o marido. — Ninguém morre disso. Agora que você começou, vai contar a história toda.
— Mas, Margarida...
— Nada de “mas”... Se você não conta, conto eu!
Margarida abaixou a voz e inclinou-se sobre o balcão, aproximando-se de Levi:
— Aquele velho safado morreu um pouco depois do noivado. Acidente de carro. Pelo que eu soube, o Rubens quase deu uma festa.
— Só que ele não podia mostrar que estava feliz porque a filha caiu de cama. — completou Joaquim — Depressão, sabe?
— Ela ficou uns meses assim. Depois foi voltando ao normal... Pelo menos era isso que pareceu.
— Como assim?
— Ninguém soube na época, — Margarida continuou no mesmo tom conspiratório — mas ela começou a visitar uma mulher lá na Baixada... Uma vidente ou feiticeira... Não sei bem. Mas parece que essa tal dona ensinava a falar com os mortos...
— Margarida! Isso aí já é boato! — protestou Joaquim — O moço vai achar que somos malucos!
Levi apenas observava, cada vez mais interessado na história. Achou melhor dizer algo pra evitar que a história ficasse sem um final:
— Não, não... Por favor, continue. Não vou pensar mal de vocês...
Margarida deu uma olhada que significava “viu só?” para o marido e continuou:
— O pai acabou descobrindo o que estava acontecendo. Sabe que dizem que esse mundo é pequeno? Pois então, um amigo do Rubens disse ter visto a Celeste no cemitério. Ela estava na sepultura do bode velho. E o pior de tudo. Ela estava conversando com a sepultura.
Levi ficou olhando os dois. De repente sentiu uma identificação absurda com Celeste. Ambos tinham se deixado levar pela saudade, viraram as costas para o presente e começaram a orbitar um passado morto. A vontade que brotou de seu peito era a de voltar para casa correndo. O estranhamento da história o fez ansiar pelo presente que antes tinha desprezado.
— Rubens ficou com medo que a filha estivesse ficando louca. Foi olhar as coisas dela e encontrou uns panfletos e livros ensinando como falar com os mortos. Jogou tudo fora e proibiu a filha de voltar ao cemitério ou ver a tal feiticeira.
— E aí ela morreu? — Levi disse isso enquanto sua mente pensava na outra possibilidade: suicídio.
— Muito pior.
— Pior como?
— Bom, pra começar ele devia ter conversado com ela antes de ter proibido...
— Para de enrolar, Joaquim! O que aconteceu foi o seguinte, meu filho: Ela fugiu de casa de noite e foi direto para o cemitério. Aposto que tinha algo sobre isso em um dos livros ou panfletos no quarto dela, aqueles que o pai jogou fora. Acho que só Deus, ela e a vidente sabem o que aconteceu naquele cemitério. Um vigia disse ter visto uma mulher andando pelo cemitério. Como era tarde da noite o coitado ficou com medo de ir sozinho e foi chamar um dos coveiros. Andaram pelo cemitério todo e encontraram uma mulher caída em cima de uma das sepulturas. Era a Celeste. E a sepultura você sabe de quem era.
Levi respirou fundo, achando que a mulher tinha acabado sua história. Foi quando o marido disse:
— Tinha um braço apontando pra fora do túmulo. Era o braço do bode velho. Estava agarrado na mão dela.
— Não pergunte como o braço saiu ou como foi parar lá. Soubemos a história por outras pessoas. A maioria das coisas nessa confusão toda só podemos imaginar. Mas acho que o bode velho devia querer companhia. Como não ouviram Celeste gritar quando foi arrastada para a sepultura, talvez ela até quisesse isso. O senhor vai querer mais café?
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Carioca, nascido em 1978. Pedagogo, funcionário público, colunista da Revista Litere-se e fã de histórias assombradas. Publicou contos em antologias de terror das editoras Andross, Illuminare, Elemental, Coerência, Autografia e nas revistas literárias Avessa e Litere-se. Foi premiado com o 5º lugar no II Concurso Literário Contos de São João Marcos. Recentemente foi indicado ao Prêmio Strix, organizado pela Editora Andross. Mantém o blog materiadepesadelos.blogspot.com.br. Suas influências literárias são Nelson Rodrigues, Stephen King e H.P. Lovecraft.
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Hedjan C. S.
hedjancs@gmail.com
Antologia
Em meados de janeiro de 2018, Gabriela Martins teve uma ideia. Decidiu juntar um grupo de escritoras com o objetivo de criar uma antologia sobre o tema de mudança – seja ela mudança emocional, de superação ou aceitação de um evento; ou de ambiente. No dia 14 de abril do mesmo ano, a antologia Momentum estreou na Amazon do mundo todo.
A antologia está em inglês e contém 10 contos de autoras de diversos países, cada uma trazendo suas próprias experiências e culturas para suas histórias, incluindo um conto da própria Gabriela.
Momentum
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As autoras
Adiba Jaigirdar é uma escritora e poeta irlandesa com descendência Bangladeshi. No momento reside em Dublin, Irlanda, e tem Mestrado em Estudos Pós-Coloniais. Seu trabalho tem sido publicado em 200ccs, About Place Journal, e muitos outros. Ela trabalha como professora de Inglês para estrangeiros, e ocasionalmente escreve sobre cultura popular para a Cultured Vultures e livros para Bookriot. Todo o seu trabalho é auxiliado por quantidades copiosas de chá.
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Sinopse:
Essa antologia é sobre mudança. Contém fantasmas amigáveis (e convencidos), pessoas superando seus medos, robês gigantes, separações amargas, pessoas taking the leap, pessoas voltando para casa, dinãmicas familiares em constante movimento, amor em dimensões e planetas improváveis e, é claro, humor.
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Ashia Monet é uma autora afro-americana que ama escrever sobre adolescentes queer não-brancos, descobrindo à eles mesmos e salvando o mundo. Ela pode normalmente ser encontrada enchendo sketchbooks, aperfeiçoando a sua técnica com o delineador, e tentando pintar todos os aspectos da sua vida em rosa pastel. Amante das webcomics, The Adventure Zone, e o doce e etéreo som da voz de Josh Groban. Você pode encontrá-la no Twitter (@ashiamonet), Instagram (@ashiawrites) e apoiá-la no Patreon (https://www.patreon.com/ashiamonet).
Gabriela Martins é uma autora brasileira com uma obsessão terrível por bruxas, guerras fictícias e super-heróis. Seus principais hobbies incluem planejar assassinatos em mundos de faz-de-conta, longas caminhadas até o sofá, assistir séries compulsivamente no Netflix, e, surpreendentemente, Yoga. Site: http://gabrielawrites.com/
Sofia Soter é uma escritora, editora e tradutora brasileira. Escreveu para publicações como Midnight Breakfast, Reader’s Digest, ELLE Brasil e Brooklyn Magazine, e atualmente trabalha em projetos de ficção representada pela Agência Página 7. Você pode encontrá-la no Twitter (@sofiasoter), e no Instagram (@miss_sofia) e ler seus trabalhos publicados em sofiasoter.contently.com
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June CL Tan foi criada na multicultural Singapura, sob uma dieta de livros clássicos, filmes wuxia, cafeína e congee. Escreve histórias de ficção científica e fantasia para jovens adultos e é graduada da Pitch Wars 2017. Reside no momento em Nova Iorque, com seu marido peludo e gato chorão, com esperanças de um dia ter um quintal grande o suficiente para um cachorro bem grande. June é representada por Elana Roth Parker da Laura Dail Literary Agency. Site: junecltan.com
Ruth Torres ama ler, cozinhar e escrever. Ela também teve uma história curta como destaque em “Doorknobs & Body Paint”. Você pode seguí-la no twitter @rjaytd para dar uma olhada por trás das scenas em seus projetos de escrita, vídeos de animais e memes engraçados
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Lyla Lee é uma escritora de histórias YA/MG Contemporâneas sobre diversidade, e Ficção Científica e Fantasia. Nascida na Coréia do Sul, vive desde então nos Estados Unidos. Quando não está escrevendo ela está ensinando, assistindo dramas coreanos e comendo todos os tipos de comidas gostosas. É representada por Penny Moore da Empire Literary. Twitter: /literarylyla
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Dorinna Bermudez é uma autora americana descendente de mexicanos obcecada por tudo que é mágico. Você normalmente pode encontrá-la com o nariz em um livro ou com um notebook no seu colo. Seus hobbies incluem beber café demais, ter desejo por batatas fritas, assistir filmes, Netflix e cochilar. Twitter: /dooreenuh.
Katie Zhao é uma autora de YA/MG com um diploma duplo em Inglês e Ciência Política pela Universidade de Michigan (2017) e Mestrado em Contabilidade (2018). Ela é uma orgulhosa graduanda de Kopitonez a Capella. Em seu tempo livre ela gosta de ler, cantar e se exercitar. Ela no momento reside em Ann Arbor, Michigan, em um minúsculo apartamento de faculdade que ela insiste em entupir de livros e lanches asiáticos.
Mayara Barros, nasceu no Rio de Janeiro. Publicou “Caleidoscópio”, um livro de histórias curtas pela editora Illuminare, e nas antologias “Contos de Fada” e “Anjos e Demônios”, também pela Illuminare, e na Antologia “Valquírias”, pela Darda Editora. Site: www.naiveheart.org
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Celso Ricardo de Almeida
celsoricardo.almeida@oi.com.br
Agradeço a Você
Administrador de Empresas com MBA em Gestão Empresarial e Especialização em Gestão Pública, Gestão Ambiental e Filosofia da Religião. E é Doutor Honoris Causa em Administração de Empresas pela Unilogos. Terapeuta possui formação nas áreas de psicanálise, acupuntura e outras. Na senda literária é escritor e pesquisador possuindo 9 livros publicados e participação em centenas de antologias. Pertence ao quadro de várias academias literárias.
Agradeço a você,
Que me acolheu sem saber.
Ouviu meus lamentos,
Curou meus tormentos,
E me ajudou a viver.
Reconheceram meu erro!
Prestaram boa vontade!
Corrigiram meus defeitos!
Me ajudaram de verdade.
Souberam dizer,
No momento oportuno.
Palavras difíceis,
Mas que mudaram meu mundo.
Era um ser diferente,
Mergulhado nas trevas.
Perdido em sonhos,
Entregue ao ócio.
Mas graças a você,
Corrigi meus defeitos
Renasci das trevas
E voltei aos eleitos!
Hoje estou diferente,
Já sou outro homem!
Por isso agradeço a você,
Que mudou meu viver.
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Cigarros e Flores
Eu continuava a visitar-lhe, a levar-lhe flores
A ir contar-lhe como foi o meu dia
Tentava manter-lhe informada sobre
a sociedade e seus horrores
Tínhamos um gosto único, peculiar,
eu falava mesmo sabendo que não iria haver resposta
Continuava a levar-lhe o jornal
e nas noites de inverno alguma bebida quente
No natal, comprava aquelas flores
que ela sempre tentou ter em casa
Ainda levava aquele livro de poesia que ela tanto gostava
E eu lia para ela, e continuava a ler até se tornar tarde
Algumas vezes comprava aquele urso
que ela tinha quando era criança
E nas noites de chuva eu permanecia ao lado dela,
e falava-lhe sobre as estrelas, a lua e viagens a Marte
E mesmo ela não respondendo eu sabia que ela ouvia
Permanecia ao lado dela, chuva, neve, sol,
não importava o quê, eu ainda lá estava
Falava-lhe de política mesmo sabendo que não gostava
Ainda levava um maço de cigarro para dividir
Noites falando com ela sem querer dormir
Havia pouca coisa de valor em minha vida
Havia poucos momentos em que podia simplesmente falar
E ela me concedia esses momentos,
ela me mostrava como sarar as feridas
E mesmo no silêncio,
e mesmo ela não respondendo
eu sabia que a gente se divertia
Eu sabia que ela não queria ficar sozinha,
então é lá que eu ficava
Fingia que contava as estrelas com ela
Fumava e fingia que ela fazia o mesmo
E mesmo quando me foi proibida a entrada no cemitério,
eu continuei a visitar-lhe apenas porque
ninguém poderia tirar-me aquele momento.
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Gregory Mourinho
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Depois da Noite
A casa estava tão fria.
A mesa posta, vazia.
A vida então nos trazia,
nostalgia.
Junto da lenha, o fogo.
Depois da noite, o dia.
Na sala a mesma lareira,
o velho sonho aquecia.
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Daniela Genaro
“Eu sou professora de História e poetisa nas horas vagas. Entendo o conhecimento histórico e o fazer poético como ferramentas para transformar o mundo. Afinal, ambos levam a uma reflexão humanizadora.”
danigeaguiar@gmail.com
Jullie Veiga
jullieveiga@gmail.com
Nostálgica
Poeta, de São Luís do Maranhão.
Escrevo desde a infância, por paixão e porque as letras me tomam e me usam no nascimento de cada escrito. Com vida literária recente (as primeiras publicações em julho de 2017) e participação em quase trinta obras. Sendo estas, obras nacionais e internacionais, em livros e revistas.
Além de escritora, agora também na elaboração e organização de projetos antológicos.
Melancolia me varre
Leva ao passado
E meus olhos perdidos no tempo
Buscam, para a realidade, um alento
Toco nos saudosismos
De quando viver não se corria riscos
Da infância sem alardes
Das casas sem grades
Do Sol que rasgava o dia
E libertava a minha liberdade
Saudade tenho dos amigos que deixei
Durante a mocidade minha
Eram todos parte de mim
A melhor parte que eu tinha
Parti com os sonhos que lá plantei
Querendo ser para sempre criança
Mesmo sabendo que impossível seria
Hoje, eles são a minha esperança
Que alegria a ausência das prisões
Dentro de nós, brotava fácil a paz
Nestes versos, as minhas confissões
Minha infância agora jaz
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Olhos na Nuca
Peito masmorra a trucidar instante.
Eterno hoje, repetitivo, algoz
do velho sentimento itinerante
instalado frequentemente em nós.
Bons tempos da memória de elefante;
límpida, veemente, bela, feroz.
Cortando coração lancinante
em pedacinhos desvairados e, após,
sensação de nunca mais ser inteiro,
apenas metade do que foi outrora.
Longínqua busca do amor primeiro,
a caça desesperada da aurora,
orgulhoso perecer pioneiro,
brecando própria vida do agora.
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Lucas Luiz da Silva
Nasceu em Guararema, em 1991. Iniciou publicando crônicas no “Jornal D’Guararema” e depois poemas no site de variedades “Guararema Tem” em 2016.
lucas.gma@hotmail.com
Sigridi Borges
Retrato
No retrato,
a marca da vida
vivida em sonhos,
sonhos em poesia.
Poeta que escreve
nas linhas da folha,
mostra o tempo,
revive o passado,
voa em fantasia.
Revive momentos
na foto mostrada,
revela a saudade
na imagem lembrada.
Bom seria
que o tempo voltasse
nas horas vividas
da foto tirada.
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Sobre um
Submerso Peito
De uma saudade absurda,
o meu peito geme sonetos trágicos
e contos sobre amores falecidos.
Eu me lembro de quando a piscina
ainda parecia vazia.
E os seus pés trouxeram
a coloração de todos os possíveis
tons de azul nesse universo.
Sei que da criação das mãos de um anjo
ou de uma fada, você nasceu.
As sirenes dos seus olhos do azul
(mais mágico)
simplesmente me jogaram em um transe sem escapatória.
Eu tenho suportado terríveis chuvas
nesse coração e infartos de alma apodrecida.
Queria poder sanar toda esta melancolia.
Mas, o santuário dos meus sentimentos,
derrama sangue quando sente a sua falta.
Você é a minha fresca piscina,
límpida e tão viciante.
Na sua cicatriz, pretendo mergulhar
até a fusão de todos os planetas.
E no dia em que a asfixia tentar se vingar de mim,
o meu fôlego permanecerá preso ao seu,
morrendo da mesma febre
e declarando a fermata absoluta.
Desejo teus pés eternamente encostando nos meus,
seu tempo trazendo a letargia
o nosso nado sem pressa,
devorando o ar um do outro.
Se este poema pudesse
transcrever a partitura da perfeição dos seus lábios,
desvendasse o enredo do roteiro de todo o seu corpo
e lapidasse a tatuagem da sua língua grudada na minha pele,
seria a declaração oficial do meu amor.
Mas, o papel e as poucas linhas,
são apenas uma pequena parcela
do festival de fogos e festa, que rodeiam o meu ser.
E mesmo sabendo
dessa fantasmagórica distância das águas,
sei que os meus batimentos
se enterraram na sua eternidade,
ansiando pelas partículas envoltas no teu peito.
Gritar essas sonoras canções do meu pensamento
adormecendo em seus sonhos,
apenas encostar meu espírito no todo em que você habita,
é a única constância em minha carne.
Vou me despedir com a fluidez do seu cheiro,
me transportando para a água,
na acolhedora profundidade
entre os versos oscilantes
e o movimento do amor na piscina,
onde rapidamente submergi.
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Morphine Epiphany
Cristiane Vieira de Farias, ou Morphine Epiphany. Formada em Produção de Música Eletrônica.Possui textos publicados em revistas, antologias e coletâneas. Seu livro de poesia ‘’Distorções’’, foi lançado em 2015. Terceiro lugar no I Prêmio FLIBO. Primeiro lugar no Japan Haicai.
eumorphine_69@hotmail.com
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mai/jun 2018
Gosta de escrever e gostaria de ser um autor publicado?
Conhece alguém que se encaixa nessa descrição?
Onde nos encontrar
Site: www.revistavessa.com
Facebook: /revistavessa
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tumblr: www.revistavessa.tumblr.com
Sobre a Revista
É uma revista digital de jornalismo literário que abre espaço para escritores iniciantes divulgarem seus trabalhos e entrarem em contato com o mercado literário, que é representado pelas grandes editoras, além de crescerem em sua arte.
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A escolha dos textos
Cada edição será construída em cima de um tema. Os textos a serem publicados serão escolhidos pelo Conselho Editorial, com base nas regras indicadas no edital publicado no site.
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